Não sei ao certo a quantos meses estava frequentando o centro espírita, mas já fazia um bom tempo.
Tempo suficiente para que o Amauri (sempre muito tranquilo com tudo), começasse a implicar com a frequência, mesmo sem saber o que estava acontecendo comigo, já que tanto eu quanto a Florisa não comentávamos nada, tudo ficava entre nós.
Certa noite de trabalho, tudo estava transcorrendo exatamente igual em cada detalhe (como já descrito anteriormente), até que a moça falando como baiana se aproximou.
Ela se ajoelhou na minha frente, eu como sempre sentada com as mãos sobre os joelhos, quando ela colocou as mãos sobre as minhas e perguntou:
– Porque não diz quem você é?
Eu pensei: ela sabe quem eu sou, o que ela quer que eu diga?
Ela continuou: – Você lutou tanto para chegar aqui, diga quem você é.
Eu pensava: não quero desrespeitar está moça que é sempre tão gentil, mas o que eu posso dizer? O que ela quer que eu diga?
Em meio a toda esta conversa maluca eu não parava de chorar, o que estava me incomodando profundamente.
Eu queria entender tudo que acontecia, queria aproveitar a oportunidade para fazer perguntas e esclarecer meus questionamentos. Mas não conseguia falar, só ouvia.
Assim, as perguntas e respostas ficavam na minha cabeça sem que eu conseguisse me expressar.
Ela continuou: – Diga quem você é, eu não posso falar quem você é, seu cavalinho não vai acreditar.
Enquanto isso eu pensava: Quem é esse cavalinho? Será uma charada?
Esta loucura piorou quando mais uma vez ela disse: – Diga quem você é!
Foi ai que vi minhas mãos saírem debaixo das mãos dela sem que eu pudesse controlar, nesse mesmo momento fui me levantando aos prantos, me virei, peguei minha irmã pelos ombros e puxei-a para mim, abracei muito apertado seu corpo e disse: – Sou o Rolandinho, seu filho.
Eu tinha a sensação de ter levado um soco no estômago tamanho o susto.
Tentava assumir o comando do meu corpo físico na tentativa de sair daquele abraço, mas não conseguia.
Enquanto eu e minha irmã chorávamos juntas, eu pensava: isso não pode estar acontecendo, é demoníaco, e em pensamento pedia a Deus para que me livrasse daquela situação.
Depois de um tempo que me pareceu uma eternidade, e sem que conseguisse controlar absolutamente nada, abri os olhos como se acordasse de um pesadelo horrível, e percebi que o choro havia cessado totalmente como se nunca houvesse acontecido.
Minha irmã ainda estava abraçada a mim. E enquanto eu tentava me desvencilhar daquele abraço eu dizia: – não acredite em nada disso, eu estou ficando louca, tudo isso é pura loucura, não acredite em mim.
Sai daquele lugar quase correndo, totalmente descontrolada com a Florisa chorando atrás de mim e fazendo muitas perguntas as quais eu nem prestava atenção, já que tinha as minhas ecoando em meu cérebro.
A única coisa que eu queria mostrar a ela, era que tudo isso não passava de loucura e de uma grande maldade da minha parte.
Não entendia como tivera coragem de fazer isso com ela…