Estava dirigindo o carro da Dona Elsa a algumas horas, estávamos indo para Salvador na Bahia.
Ela não quis ir de avião, já que precisava parar em algumas cidades ao longo do caminho e na sua visão, o carro seria mais prático.
Eu só cumpria o que me era pedido, afinal eu era sua funcionária e diga-se de passagem muito bem paga, logo, fazia meu trabalho da melhor forma possível.
Nessa viagem, o que não faltou foi tempo para conversarmos. A Dona Elsa que já estava com uma idade um pouco avançada, não aguentava muito tempo contínuo de estrada, assim, íamos parando ao longo do caminho para que ela pudesse descansar.
Em um determinado momento, eu não me lembro porque, ela começou a me contar sobre o campo de concentração e as barbaridades que presenciou.
Fiquei preocupada ao perceber que ela estava se alterando a medida que fazia o relato.
Diante disso fui diminuindo a velocidade e peguei a pista da direita, alguma coisa em mim dizia para ficar alerta.
Ela foi ficando cada vez mais alterada, e eu apesar de chocada com os relatos, me mantinha firme.
Repentinamente ela rasgou a manga da camisa expondo os números que tinha nos braços, números esses que ela sempre mantinha escondido, em seguida começou a esmurrar o vidro do carro enquanto gritava.
Encostei o carro no acostamento, e senti que minha força física aumentou quando abracei aquela mulher com todo meu amor e compaixão.
Mais uma vez ela se entregou ao meu abraço, ao meu amor e ao meu colo.
Acolhi sua dor e nada disse, apenas deixei que ficasse no meu colo até que o choro fosse se tornando manso e ela se acalmou.
Não precisava dizer nada, sabíamos o que era aquele choro convulsivo.
Não me lembro quanto tempo ficamos paradas ali naquele acostamento, sei que foi o tempo suficiente para que tudo ficasse mais calmo e pudéssemos seguir em silêncio até o próximo posto para nos recuperarmos.
Seguramente não fora a primeira vez que eu presenciara uma crises como aquela…