Certo dia passando pela marginal do Tiete, vi que perto da rodoviária havia se instalado um circo.
Como desde criança fui apaixonada por circo, imaginei que as crianças das famílias que eu cuidava, também iriam gostar de ir ao circo.
A partir dai, minha cabeça passou a procurar uma forma de levar as crianças ao circo.
Encontrei um espaço na agenda em um dos dias da semana e fui ao circo falar com o dono. Descobri que não era mais como no meu tempo de criança, que para falar com o dono do circo era só ir ao circo e procurá-lo entre os artistas pois ele estaria ensaiando, tomando café, ou qualquer coisa assim, mas o encontraria entre as lonas com certeza.
Me informaram que eu teria que ir ao escritório no centro de São Paulo e procurar pelo administrador, que o circo era uma empresa com vários sócios e tinha uma pessoa responsável, e era com essa pessoa que eu deveria falar.
Não desanimei, apenas entendi que não era como antigamente.
Enfim, consegui falar com o administrador e contei a minha idéia, ele gostou e disse que seria possível sim, que ele faria um espetáculo especial para as crianças, a única condição era que teria que ser em um dia e horário diferente da agenda do circo.
De posse desta informação, pensei no transporte e achei que na prefeitura eu conseguiria ajuda, já que eram mais ou menos 120 crianças.
Fui até a prefeitura e falei com várias pessoas, assessores de um, assessores de outro, mas nunca com quem de fato resolvia, esperei por horas em vários setores diferentes, voltei por diversas vezes, até que entendi que não conseguiria o transporte que precisava para as crianças.
Ainda não havia pesquisado a documentação que me autorizasse a levar as crianças sem os responsáveis, isso seria outro problema a ser resolvido.
As pessoas do nosso grupo de estudo (agora já chamávamos assim nosso trabalho de estudos místicos) estavam prontos para auxiliar como monitores.
Fui novamente conversar com o administrador do circo e desta vez, ele me contou que também era sócio da empresa do circo, foi ai que entendi porque ele estava me dando as respostas sem precisar consultar ninguém, ele tinha autoridade para decidir.
Conversamos longamente e ele em dado momento perguntou se na favela tinha algum espaço do tamanho do picadeiro do circo, eu disse que sim mas não estava entendendo direito onde ele queria chegar.
Ele então disse que talvez fosse mais fácil levar uma parte do circo até as crianças, elas ficariam onde estavam e ele faria a montagem nesse espaço.
Resumindo, por mais de uma vez ele foi comigo até a favela para conversarmos com alguns moradores, que prontamente se colocaram a disposição para ajudar na montagem.
Na semana seguinte estávamos todos na favela montando parte do circo, e alguns dos números escolhidos, foram apresentados em baixo de uma pequena lona.
Foi maravilhoso, as crianças se divertiram muito e como estava próximo do natal, o Sr. Constâncio foi vestido de Papai Noel e todas as crianças receberam presente.
Foi bom ver adultos e crianças se divertindo juntos.
Essa favela foi inundada diversas vezes, até que a prefeitura removeu todos de lá levando para uma região mais distante, e a partir daí eu ia ao lugar para onde foram transferidos só de vez em quando.
No lugar para onde foram, já existia uma favela grande e perigosa, eu aproveitava para falar com eles quando vinham buscar os mantimentos do mês…