Eu estava inconformada por não ter conseguido trazer o Saturnino comigo, um sentimento amargo me invadia todas as vezes que pensava nele,
No meio da semana resolvi voltar até a casa dos pais dele, o Betão e um outro rapaz do grupo (ele havia entrado a pouco tempo) foram comigo.
Quando chegamos não encontramos ninguém.
Perguntamos no sítio vizinho se sabiam de alguma coisa sobre a família que estava morando ali, e o que ouvimos nos deixou chocados.
O Saturnino passou mal e chamaram a ambulância, assim que ele foi levado a família juntou as coisas rapidamente, queimaram as roupas dele, o colchão e até as roupas de cama, em seguida mudaram sem dizer para onde.
Ficamos desnorteados e pudemos conferir pelo buraco da porta que a casa estava vazia e no terreiro ainda tinha os restos da fogueira feita com as coisas dele.
Rodamos pelos hospitais como fizemos antes e não conseguimos encontrá-lo, algumas informações desencontradas sem a mínima vontade de nós atender, uma recepcionista de um pronto socorro, depois de ouvir a descrição que demos, porque pelo nome nome não havíamos conseguido nada, fez um sinal de impaciência e disse: – este rapaz está com uma doença contagiosa e não pode ficar com os outros pacientes, ele foi levado para a cidade de Campinas.
Voltamos para São Paulo, reunimos nosso pequeno grupo e nos dividimos entre os poucos que tinham carro. Saímos cada um para um lado, procurando em todos os hospitais de Campinas.
Como não encontramos, decidimos procurar nas cidades próximas.
Dormimos em um hotel e no dia seguinte continuamos a busca, lembrem-se que não existia celular, portanto a dificuldade de comunicação era imensa, tínhamos todos que ligar para minha casa em São Paulo em horários combinados para dar notícias do que havíamos conseguido.
A Florisa ficou responsável por receber as ligações e repassar as notícias.
A medida que não o encontrávamos as pessoas do grupo iam desistindo e voltando para São Paulo, afinal tinham a própria vida, o trabalho… eu compreendia, mas não me conformava por não encontrá-lo.
Fizemos tudo que era possível, necrotério, delegacia, hospitais e por fim voltamos todos para casa.
Duas noites depois acordei e vi meu corpo deitado na cama, me vi caminhando até o altar de oração no nosso espaço de trabalho espiritual. Acordei repentinamente e estava lá diante do altar .
Orientada pela Jerusa, acendi uma vela, fiz a invocação que ela ensinou, e foquei o olhar na chama, entrei em transe e me vi num lugar escuro, frio, apertado…
Quando voltei a minha consciência tomei a decisão de continuar a procurar.
A Aline e um dos rapazes do grupo foram comigo e começamos tudo novamente por Campinas.
Nós o encontramos, já estava morto e em uma geladeira, ia ser enterrado como indigente, já que não tinha documentos.
Nós acompanhamos o carro funerário e fizemos o ritual de encaminhamento, não foi possível avisar ninguém.
Quando o corpo já estava coberto de terra senti a presença dele ao meu lado e ouvi num sussurro:
– Tentei te esperar mas não deu, sou teu filho e sempre serei…