Apesar de concordar que não seria fácil ter um lugar para todos onde cada um tivesse sua casa, eu não desacreditava do meu sonho. Portanto enxergava as dificuldades, mas não as via como impossível.
Comecei a fazer contas de todos os bens que havia conquistado e o quanto teria em dinheiro se me desfizesse deles.
Enquanto analisava as possibilidades, fui tomando algumas atitudes.
Primeiro passo seria encontrar um sítio grande o suficiente para caber as futuras casas e saber o quanto isto custaria.
Como teria que ter o espaço físico antes de qualquer coisa, comecei a procurar um sítio na região de Piracaia porque a minha intuição dizia que tinha que ser por ali.
Procurei uma imobiliária na cidade e aproveitei para colocar a chácara a venda.
Num sábado chuvoso, o rapaz da imobiliária disse que iria me levar num sítio no bairro do Dandão, achava que eu iria gostar.
A dificuldade para chegar foi imensa.
A Juliana e o Márcio estavam junto e em diversas partes do caminho tiveram que empurrar o carro para desatolar, em outros subiram no capô para fazer peso, e se não fosse nossa perseverança e a vontade do corretor de vender aquele sítio, teríamos desistido até mesmo antes de ver.
Não havia estrada, eram apenas trilhos cheios de lama e mato que chegavam na altura do capô do carro.
Desanimador para qualquer ser humano normal, mas não para mim. Quanto mais dificuldade, mais eu sentia que deveria ir até o fim.
Conseguimos chegar a sede do sítio, tinha uma casinha antiga no meio daquele mato todo e mais nada.
Olhei um pé de primavera que se enrolara em um pinheiro, estava florida como se estivesse dando boas vindas pra nós.
Fora a primavera (minha flor preferida) só se via mato. Não dava para ter idéia do espaço, já que os lugares onde o mato estava mais baixo chegava a altura do ombro.
Olhei a nossa volta e me deixei ser conduzida pelo plano espiritual.
Estava fascinada, conseguia ver as casas dos meus filhos posicionadas na montanha, suas risadas e até luzes acesas.
Olhei mais uma vez para o pinheiro abraçado pela primavera e disse para mim mesma, é aqui o lugar.
Estávamos cheios de lama e o corretor se surpreendeu quando eu disse que tinha interesse naquelas terras.
Pela aventura que havia sido o caminho até lá, ele imaginou que eu não teria interesse, mas o que ele não sabia era que dentro de mim a decisão já estava tomada, só precisava resolver materialmente.
Foi nesse momento que ele disse que o nome do sítio era Querência.
Essa informação me levou a lembrar imediatamente do meu pai. Quando eu tinha cinco anos de idade, ele me explicou o significado na palavra Querência, que quer dizer “lugar de acolhimento”. Nos rodeios, querência é o lugar de espera dos bois antes e depois de serem montados.
Tudo contribuía para a certeza que esse era o lugar.
Com um pedaço de graveto comecei a riscar no chão, o primeiro esboço para a negociação.
O corretor pegou outro graveto e deu continuidade ao meu riscado.
Para quem assistia era tudo insólito, talvez até para o corretor, mas para mim tudo estava seguindo um rumo já traçado desde a minha infância…..