Eu tinha tantos médicos, tantas consultas e tantos exames, que hoje olho para trás e perco um pouco a ordem dos acontecimentos, mas como quero relatar da maneira que meus olhos registraram, vou deixar para o diário da Carol situar os acontecimentos e continuar aqui, da minha maneira.
O oncologista que estava responsável pela quimio, me comunicou que consultara o hematologista e este desaconselhava aquela quimio e que eu deveria procurar uma outra opinião, porque ele não estava sabendo o que fazer com o meu caso.
Neste meio tempo tive outra crise de cólica nos rins e fui internada.
Aconselhada pelo urologista o qual estava acompanhando meu caso e em quem eu confiava, as meninas falaram no plano de saúde para aproveitar a internação e fazer a cirurgia dos rins.
Logicamente, elas tiveram, como estava acontecendo o tempo todo, que brigar com o plano de saúde, mas, por fim e com muita firmeza delas, conseguiram a aprovação mais uma vez.
Fui para a sala de cirurgia animada com a ideia de me livrar das pedras, as quais me causavam muita dor.
Já meio tonta, do pré-anestésico, perguntei ao médico: como está a cirurgia?
Ele respondeu: vou cortar, tirar seu rim para fora, colocar numa tábua de carne, cortar um pedaço, costurar o que sobrar e colocar dentro de você novamente, torcendo para dar certo.
Na minha cabeça passou a imagem de um pedaço meu sendo cortado como bife e não vi mais nada.
Hoje, olhando para este momento, imagino que ele estivesse brincando comigo, pois eu não estava totalmente consciente.
Quando comecei a ter consciência novamente, eu tinha uma dor como nunca tivera na minha vida e um frio que fazia meu corpo todo tremer.
Entendi que estava na sala de recuperação, queria chamar alguém, mas não conseguia, meu corpo tremia parecendo convulsão e a dor, insuportável.
Uma enfermeira se aproximou colocando um cobertor em cima de mim, esfregando meus braços, falando comigo, mas eu não conseguia articular as palavras.
Foi um momento de total desespero que ficou registrado em cada célula.
Não sei quanto tempo durou até parar de tremer, mas a dor não passava.
Quando eu estava em condições de me comunicar, um enfermeiro me deu um aparelho na mão e disse que estava ligado direto na morfina e que quando eu não suportasse a dor deveria apertá-lo e assim seria liberada uma quantidade maior de morfina. Eu apertava a cada minuto e a dor não diminuía.
Fui levada para a UTI e já era noite quando vi a Carol e a Naira ao lado da cama.
Elas haviam convencido o pessoal a deixá-las entrar, porque era proibido, principalmente naquele horário.
Em meio ao desespero da dor, vi aquelas duas pessoas lindas e amadas cantando baixinho e fazendo uma coreografia para me animar.
Não pude deixar de rir da situação. Foi um momento de brisa fresca no meio do próprio inferno. Jamais vou esquecer.
Não sei quanto tempo isto durou. De repente, um rapaz chegou e disse que elas tinham que ir embora.
Não vou me lembrar de todas as pessoas que participaram do revezamento, mas algumas as quais tenho a imagem ao meu lado, Tuco, Carol, Juliana, Naira, Teresa, Vig, Paty, Osmar, Solange, Roseli…
Lendo agora esse texto volto pra lá, na beira da sua cama e você serena e tranquila. Quanta coisa aprendi estando ali. Que alívio. Passou…