Eu tinha a consciência que meu caso era muito grave e seria uma experiência, não existia garantia de sucesso no tratamento, mas eu estava disposta a enfrentar o que precisasse.
O doutor Luiz, este era o nome daquele garoto que estava assumindo meu caso e para quem sem o menor receio, entreguei minha vida, me encaminhou para um exame o qual não me lembro o nome, mas que precisaria colher material de dentro do osso.
Cheguei no laboratório despreparada para o que iria enfrentar, o Osmar estava me acompanhando neste dia.
Enquanto esperava, olhei a minha volta e vi algumas pessoas e entre elas, crianças esperando para fazer o mesmo exame.
Quando chegou a minha vez, não foi permitido ao Osmar entrar.
A enfermeira me entregou um avental indicando um biombo onde eu deveria me trocar.
O médico entrou e pediu que eu deitasse na maca de lado, de costas para ele.
Quando ele disse para a enfermeira me segurar firme do outro lado, para eu não cair da maca, arrepiei, o que iria acontecer que eu não sabia?
Não, eu não sabia! Ele passou um produto, que deveriam ser anestésicos com iodo, na pele na altura do quadril, pegou um instrumento de metal parecido com uma furadeira e introduziu nas minhas costas, parafusando literalmente, até furar o osso e conseguir retirar o material ali existente.
Ele repetiu o mesmo procedimento quatro vezes, fazendo então quatro furos, sendo dois de cada lado do quadril.
O médico fez tanta força, que ao final, estava suando. A enfermeira de fato precisou de força para eu não escorregar e cair.
Estava muito calor, mas o suor do meu corpo não era só do calor.
Pensei nas torturas medievais aplicadas nas bruxas e me vi no mesmo lugar delas.
O procedimento deve ter demorado mais ou menos quarenta minutos, mas me pareceu um dia inteiro.
A enfermeira me ajudou a descer da maca, me deu um comprimido para eu tomar na mesma hora, dizendo ser para a dor, pediu que me vestisse, que a data do resultado seria dali a dez dias e me dispensou.
O médico já havia se retirado, imediatamente, assim que terminou a parte dele.
Fui obedecendo ao comando da enfermeira, meio atordoada e com muita dor, enquanto observava que havia passado por uma experiência violenta física e psicológica e aquele médico não me dissera uma palavra, nem sequer bom dia, quando cheguei.
Voltei para a sala de espera onde o Osmar ficara me esperando e ele não estava.
Andando com dificuldade procurei uma cadeira para me sentar e cai no choro.
Eu precisava de um colo, alguém que me consolasse. Foi uma das poucas vezes que me senti completamente só.
Olhei a minha volta, principalmente para as crianças e pensei que iriam passar pelo que eu passara.
Olhei ao redor, nem um folheto de orientação sobre o exame, nem uma pessoa a quem o paciente ou acompanhante pudesse recorrer em caso de necessidade.
As pessoas e os pais, no caso de crianças, precisavam de preparo e orientação antes de serem submetidos a uma experiência daquela.
Fiquei chorando e pensando nestas coisas, até que depois de meia hora o Osmar chegou e ao me ver chorando disse que foi tomar café e perguntou porque você está chorando? Como ele me pareceu um pouco irritado, respondi: nada, apenas estou sensível!
Andando com dificuldade e segurando no braço dele nos dirigimos ao estacionamento…