O nosso início de vida em São Paulo fora tão intenso, que não houvera tempo para olhar direito para o Carlinhos.
Começamos a nos ver no portão da casa dos tios, o que deixou meu tio muito apreensivo. E ele sempre dizia alto e em bom som para todos ouvirem:
– Não gosto de ficar com as filhas dos outros, pode virar problema para nós.
Eu não entendia que tipo de problema poderia ter eu conversar com um amigo no portão principalmente porque estávamos sempre em grupo.
Aos domingos de manhã íamos a casa da Rosa, onde nos reuníamos com alguns amigos para assistir ao programa A Jovem Guarda, que tinha estreado a pouco tempo e já se tornara sucesso entre os jovens. O almoço continuava sendo com a Dolis e o casal de gregos, e entre tantas atividades evitávamos estar na casa dos tios quando a família se reunia, para não ser mais motivo para confusão.
Agora tudo iria se ajustar, eu e a Nenem estávamos trabalhando registradas, o que nos dava segurança. E assim fizemos nossa primeira viagem a cidade de Marília para contar as novidades a mamãe.
Combinamos que o trote no emprego do bairro do Ipiranga e outras coisas desagradáveis, não seriam contados a mamãe. Não falaríamos nada que pudesse preocupá-la e juntando nossas mãos fizemos um pacto.
Ela ficou mais tranqüila, e assim pudemos curtir a família até o domingo, quando então tomamos o ônibus de volta, sabendo que viajaríamos a noite toda e iríamos trabalhar direto da rodoviária.
Estávamos indo bem, o Carlinhos pediu-me em namoro e eu aceitei. Quando me levou para conhecer sua mãe fiquei sabendo que a família era Testemunha de Jeová e que só o Carlinhos não ia toda semana ao culto. Descobri que para continuar a namorá-lo teria que me converter, assim me propus a frequentar a igreja até compreender os princípios desta religião e então poder tomar a decisão com segurança. Expliquei que para mim era um assunto sério e que não queria tratar com leviandade.
A proposta foi aceita sem muito entusiasmo pela mãe dele e seguimos com o namoro.
A Dona Maria e o Sr. Anastácio tinham no fundo da casa deles uma edícula com um quarto, cozinha e banheiro, e caso eu e a Nenem quiséssemos eles alugariam para nós. A nossa felicidade tão grande que nos mudamos no dia seguinte, só tínhamos uma mala cada uma e dormiríamos no chão mesmo.
Naquela semana a Dolis nos deu um sofá que alguém ia jogar fora e a Dona Maria nos deu uma cama de solteiro com colchão e até lençóis.
Aquele pequeno espaço nos fundos da casa daquelas pessoas tão queridas seria nosso castelo.
No primeiro final de semana que fomos visitar os tios, soubemos o quanto estávamos incomodando por tudo que ouvimos dele. E assim como ele nós também ficamos aliviadas, e gratas por só ficarmos sabendo depois de alojadas…