Estávamos muito bem morando nos fundos da casa do Sr. Anastácio e dona Maria.
Eu trabalhando como ajudante de expedição na star up e a Neném na fábrica de roupas intimas. Ela chegava em casa com os dedos sangrando pelo uso da tesoura ao cortar os bojos de espuma e mesmo assim estava feliz, a fábrica era pequena e não tinha máquina de corte, então tudo era feito a mão. Nós duas tínhamos registro em carteira e nos sentíamos seguras.
Numa tarde de sábado o Carlinhos disse que a mãe dele queriia falar comigo, e lá fui eu achando que era alguma coisa relacionada ao nosso namoro, como ele não adiantou nada pensei ser algo muito bom.
A conversa foi um monologo, e entendi que ela achava que eu como todos que não eram Testemunhas de Jeová, era mundana (esta era a forma deles discriminarem os que não pertenciam a religião). Disse que se eu não me convertesse, não poderia mais ir ao salão do reino (assim era o nome dado ao espaço físico dos encontros) e nem namorar o filho dela.
Perguntei ao Carlinhos o que ele pensava disto e ele deu de ombros sem dizer nada.
Ela insistiu que se não tomasse uma decisão eu seria expulsa e assim, sem dizer nada sai daquela casa para sempre.
Tendo sido expulsa da igreja e como eu padeceria junto com todos os mundanos, o Carlinhos deixou de ser meu namorado e amigo.
A Neném celebrou o fim do meu namoro, agora poderíamos ir juntas as domingueiras que aconteciam na quadra da escola perto da nossa casa.
A Avenida Radial Leste estava começando a ser construída, e com isto o transito ficou muito ruim fazendo com que o trajeto de ônibus demorasse demais, passei a acordar as quatro horas da manhã para conseguir chegar no horário ao trabalho.
O Sr. Anastácio ia junto comigo ao ponto de ônibus preocupado com minha segurança. Eu agradecia a ele e a Deus por sua presença em minha vida, olhava para aquele homem com gratidão, era meu anjo da guarda.