Fui com a Neném em uma loja da Avenida Conselheiro Carrão, onde meus primos costumavam fazer compras e escolhemos uma televisão branca pequenina.
Não sei dizer quantas polegadas ela tinha, mas era a menor que existia na época.
Nessa loja vendia-se a prestação com caderneta, a pessoa ia pagando e quando terminava a ultima prestação, levava o objeto.
Nós pagamos a vista, em dinheiro, e levamos a televisão no braço, nos revezando para carregá-la.
A Avenida Conselheiro Carrão estava começando a receber calçamento e por isso havia montes de pedras acumuladas ao longo da via, por várias vezes tivemos que subir nestes montes mas nada era problema, tínhamos uma televisão, só nossa!
Ao chegarmos em casa, o Sr. Anastácio fez uma nova tomada para que pudéssemos ligar a nossa jóia, e quando ele foi embora deixando nossa tv ligada, choramos.
Era sábado, estávamos de folga até segunda feira e decidimos, vamos ver televisão enquanto tiver programa no ar.
Conseguimos pagar a Geladeira que nos emprestaram, e aos poucos fomos arrumando nossa casinha, colocando dentro dela tudo que precisávamos.
Comprávamos comida e até frutas na feira, e aos finais de semana saíamos para a domingueira, cinema e até teatro.
Um amigo do trabalho da Neném nos arrumava ingressos gratuitos e assim, vivíamos a vida em São Paulo. De tempos em tempos viajávamos para as cidades de Marília e Ivaiporã, nos revezando entre elas.
Certa noite ao chegar em casa, encontrei a Neném eufórica e ansiosa para me contar a novidade, a empresa em que ela trabalhava tinha uma espécie de colônia para funcionários na Praia Grande, e para usarmos bastava reservar com antecedência e pagar um valor praticamente simbólico.
Eu não acreditava no que estava ouvindo, a possibilidade de conhecer o mar, ouvíamos falar do mar mas não conseguíamos imaginar como era.
Nunca havíamos visto e agora, a possibilidade surgiu.
Conversamos até tarde e antes de dormir rezamos juntas, agradecendo as bênçãos recebidas.