A Neném sentia-se orgulhosa por poder nos proporcionar a viagem a Praia Grande, e com satisfação convidou a Dolis, a Rosa e a Verônica nossa prima. Convidou também a Dona Maria e o Sr. Anastácio, mas estes não puderam ir.
Ela fez a reserva para a primeira data, dali a quinze dias. Era tempo suficiente para nos prepararmos.
A Dolis como tinha mais flexibilidade de horário, encarregou-se das passagens de ônibus,
iríamos numa sexta feira logo depois do almoço e voltaríamos na terça, como era feriado a empresa em que ela trabalhava iria fechar na segunda.
Eu não tive dificuldade em conseguir a sexta e a segunda de folga, e com isso estava tudo esquematizado. Iríamos junto de pessoas amigas, eu e a minha irmã, com muita emoção conhecer o mar.
Descemos do ônibus no Boqueirão da Praia Grande e enquanto a Dolis e as meninas procuravam se informar como chegar na colônia, eu e a Neném atravessamos a rua de terra que separava a calçada da praia e fomos por os pés na areia. Não conseguiríamos fazer nada antes de ver de perto o mar.
A imensidão sem fim, as ondas indo e vindo, o som da agua como se falasse com a alma, divino era só o que conseguia pensar, divino.
Mergulhei os pés já descalços e estendi o olhar para o infinito daquelas águas naquele fim de tarde e lembrei-me de uma imagem de Iemanjá que vira a muito tempo, e pedi permissão ao mesmo tempo que agradecia.
Meu rosto estava molhado de lágrimas e a sensação era que existia apenas eu, o mar e Iemanjá. Senhora que eu não conhecia mas reverenciava.
Neste momento, vi através das lagrimas que corriam sobre meu rosto uma figura caminhando sobre as águas.
Era ela, Iemanjá, com um movimento dos cabelos negros, desapareceu no seu reino me deixando em transe.
Quando voltei a mim não falei o que vira, mesmo porque não saberia explicar.
Só muitos anos depois eu entenderia o que ocorrera…