Meu trabalho se tornava cada vez mais interessante e dinâmico.
Foi criada uma agenda para meus compromissos, ia com os vendedores as lojas para vestir, mostrar os modelos e seu bom caimento, mesmo para mulheres.
Certo dia houve um alvoroço no departamento de vendas, a Star up conseguira ganhar a concorrência para fabricar as calças jovem guarda. Foi um período de muito movimento na empresa.
Houve coquetel de lançamento dos modelos calhambeque, vanderléia e tremendão.
A calça vanderléia era linda, cintura baixa, justa na perna, boca de sino e duas cores, sendo uma cor na parte da frente e outra na parte de traz.
Revolução total na moda, que até aquele período havia sido comportada.
A empresa passou a receber pessoas ligadas aos cantores da jovem guarda, e era comum alguns chegarem com bilhetes contendo pedido de calças, que eram levadas por conta da divulgação.
Em uma quarta-feira desci do ônibus no largo da concórdia como de costume, e caminhei na direção da empresa na Rua do Hipódromo.
Quando estava a três quarteirões de distância, me vi em meio a um tumulto. A rua estava tomada por uma multidão, não dava para passar, homens, mulheres e principalmente jovens, muitos jovens.
As pessoas se acotovelavam, se empurravam, em meio a gritos. Vi uma menina que aparentava ter no máximo doze anos arranhar o rosto com as unhas, enquanto gritava o nome do Roberto (Roberto Carlos).
Me senti zonza e chocada com as cenas que se apresentavam. Um rapaz pulando e aos gritos de é o rei, se urinou todo.
Histeria total. A multidão parecia estar possuída. A delegacia era na mesma rua, e dos seus portões saíram alguns policiais para tentar acalmar os ânimos.
A confusão aumentou e eu fui literalmente arrastada para o meio da multidão descontrolada. Tentava encontrar uma forma de me desvencilhar, olhava para os cantos da calçada procurando abrigo, mas não conseguia sequer por os pés no chão.
Repentinamente algumas pessoas se tornaram violentas e começaram a chutar as portas da Star up que estavam fechadas.
Muitos policiais chegaram e com isso as pessoas começaram a correr acabando com o vandalismo.
Quando consegui entrar na empresa, havia perdido o chapéu e um pé do sapato, a camisa estava rasgada nas costas e meu rosto sangrava em função de um corte.
Fiquei então sabendo que alguém iniciou um boato que o Roberto Carlos, a Vanderléia e o Erasmo viriam dar autógrafos na Star up, e isso atraiu aquela multidão.
Eu nunca vira loucura coletiva tão impressionante e perigosa, nem nos comícios políticos da minha infância…