Eu sempre tive o hábito de ocupar o mesmo lugar.
Era o mesmo lugar na mesa, no sofá… claro que isso se referia aos lugares onde ia com frequência, mas desde pequena era assim, até na igreja procurava chegar mais cedo para ocupar o mesmo lugar.
Sendo assim, na hora do almoço ou em qualquer momento em que fossemos comer na casa da Dona Odila, eu ocupava o lugar que ela me indicara na primeira vez que ali estive, e este lugar era ao lado do Sr. Angelo.
Ele foi percebendo que eu não gostava de beber no mesmo copo com outras pessoas, que colocassem o garfo da boca na salada, entre outras pequenas coisas. Tudo sem que eu falasse, apenas observando.
As vezes eu ficava encabulada de tanto que ele me observava, até que descobri a intenção.
Em determinado momento, ele começou a guerra que havia preparado, bebia no meu copo, pegava comida do meu prato com o garfo dele, salada com o garfo cheio de arroz que já estivera dentro da boca dele, e assim por diante, um terror.
Parecia criança provocando briga, e eu sabia que a intenção era fazer com que o desrespeitasse, assim teria motivo para brigar comigo diante de todos.
Quando eu percebi que estava prestes a ultrapassar meu limite, troquei de lugar na mesa, mesmo correndo risco de parecer grosseria.
A Dona Odila foi a primeira a estranhar e perguntar o porque a troca, tentei explicar da melhor maneira possível, mas ela era muto inteligente e conhecia o marido que tinha, mesmo assim, havia no tom dela reprovação.
Quando todos estavam reunidos, o único lugar que ficava vazio era na cabeceira da mesa, exatamente o oposto da cabeceira que ele ocupava, e foi ali que me sentei, bem longe dele. Ficou então a seguinte disposição: o Sr. Angelo em uma cabeceira, eu em outra, ao lado dele a Dona Odila seguida do Arnaldo e do outro lado próximo a mim, o Amauri. Em frente a Dona Odila o lugar ficou vazio, mostrando a ele que eu havia entendido suas provocações.