Na casa da Rua Ipanema, onde eu morava com a Neném e o Filemar, havia um pequeno terraço na parte de cima, de onde se via a rua.
Eu estava neste terraço em um finalzinho de tarde, quando vi a mamãe chegando.
Desci correndo para recebe-la, não sabíamos que ela estava vindo e ficamos muito felizes.
Como sempre quando nos encontrávamos, conversávamos animadamente, contando sobre as novidades.
Desta vez não foi diferente e conversamos até o sono dominar.
Contei a mamãe que a Dona Odila estava gostando que eu trabalhasse com ela, que estávamos nos dando muito bem, mas não contei que o Sr. Ângelo não gostava da minha pessoa e que implicava comigo. Achei desnecessário provocar algum aborrecimento a ela, que não poderia fazer nada a respeito.
Fiquei muito feliz quando a mamãe disse que ficaria duas semanas conosco.
Programei uma visita ao Museu do Ipiranga, eu tinha ido algumas vezes fazer passeios pela cidade de São Paulo e este era um lugar que eu gostava muito, e achei que ela também gostaria.
Eu não estava errada, ela adorou o passeio.
Fomos ao museu no sábado e no domingo na casa do irmão mais novo dela, Tio Nelson. Ele morava em São Miguel e passamos o dia todo por lá, só voltando no final da tarde.
Ela ficou impressionada como eu sabia quais os ônibus que deveríamos tomar, o caminho, a direção, enfim, como sabia me movimentar numa cidade tão grande.
Fiquei orgulhosa em perceber a admiração dela por mim, eu a amava muito. Eu a amo muito!
Ela dormia ao meu lado, eu me abraçava a ela e me sentia protegida, como se nenhum mal no mundo pudesse me alcançar.
Numa noite, quando já nos preparávamos para dormir, ela estava subindo a escada para a parte de cima onde dormíamos, quando sentiu uma dor forte e sentou-se, sem conseguir continuar.
Eu vinha logo em seguida e perguntei o que estava acontecendo, já preocupada com a palidez do rosto dela.
Enquanto ela tentava explicar a dor, ajudei-a a chegar na cama e a acomodei.
Como tinha um histórico de problemas sérios no intestino, disse que deveria ser algo que comera e que era só esperar a dor passar.
Não conseguia dormir e percebia que ela continuava com muita dor, não conseguindo disfarçar, apesar de tentar.
Eram três horas da manhã quando senti um liquido quente, subindo pela minha perna, enquanto a mamãe não conteve e soltou um gemido, quase um grito de dor.
Levantei e ao acender a luz vi a cama, ela, eu, tudo encharcado de sangue.
Alguma coisa muito séria estava acontecendo…