O tempo que passamos naquela fazenda e convivendo com a Cida foi sombrio e cheio de insegurança.
Hoje, quando me lembro daquele período sinto arrepio.
Enquanto estive lá, não era raro me pegar refletindo, que aquele talvez fosse o purgatório de que tanto se falava.
Certa manhã de sábado, estávamos eu e meus irmãos em baixo de um grande pé de maracujá conversando sobre alguns planos para fugir dali.
Este pé de maracujá ficava bem próximo da porteira da entrada da fazenda, e era comum nos sentarmos lá nos dias de folga e imaginarmos fugas espetaculares que nunca faríamos, mas que nos dava a ilusão da liberdade.
Estávamos nos nossos devaneios quando ouvimos o caminhão de leite parar na porteira, por algum tempo meu cérebro não conseguia entender o que ocorria, fiquei paralisada enquanto vi uma figura miúda absurdamente magra e com muita dificuldade para descer do caminhão.
Pensei ser um fantasma. Meu coração acelerou enquanto uma sensação de vertigem me fez sentar no chão, a voz do Nino me parecia longe enquanto eu tentava entender o que estava acontecendo: – É a mamãe disse o Nino, não é não disse a Neném deve ser os fantasmas que a Zinha conversa, é a mamãe sim disse o Polaco.
Era a mamãe! Estava viva! Se é que podia-se dizer que aquele era um ser vivo. Pela fragilidade parecia mais um espectro. Os ossos a mostra reforçava esta impressão.
Minha cabeça rodava, perguntas surgiam, perguntas que só seriam respondidas mais tarde, agora precisávamos ajudar minha mãe que não conseguia sequer subir um pequeno barranco do portão tamanha a fraqueza.
Corremos até ela chorando…