Quando voltei do desmaio, estava no meu quarto com o Amauri ao meu lado e as portas trancadas.
Ele me contou que me levara até o quarto e pela janela pedira socorro ao vizinho para que chamasse a policia, já que não tínhamos telefone.
O ladrão ainda estava no nosso quintal possivelmente machucado, e como o muro era muito alto não conseguia fugir.
A policia já havia chegado, estava na rua e dentro da nossa casa tentando prende-lo.
Não demorou muito e começamos a ouvir a troca de tiros na garagem próximo ao quintal.
Cai em prantos sem entender meus sentimentos, não queria que o homem que estava tentando assaltar nossa casa viesse a morrer, parecia que eu era culpada.
Eu não sabia o que ocorria dentro do mais intimo do meu ser, mas doía muito até fisicamente.
Enfim, em meio a grande gritaria prenderam o homem e o conduziram ao carro de policia.
Quando olhamos pela janela, a rua estava cheia de pessoas de pijama e camisola. E demorou para que resolvessem entrar e se acalmar.
Eu e o Amauri ficamos conversando e pensando no risco que corremos com a minha atitude louca, já que ele sempre ouvira eu dizer que não se deve reagir a um assalto, mas fizera exatamente o contrario.
Era madrugada e ainda não tínhamos sono, estávamos na energia do acontecimento quando comecei a sentir muita cólica.
Logo em seguida teve início uma hemorragia e o Amauri decidiu levar-me ao hospital São Cristóvão, por ser o mais próximo de casa.
Fui atendida por um médico que estava de plantão, que disse com toda frieza que eu havia perdido o bebê, que ele já havia feito a curetagem, e que pela sua experiência o descolamento da placenta determinava que eu tinha útero infantil, o que indicava que dificilmente a gravidez iria para frente.
E ainda arrematou dizendo que eu não poderia mais ter filhos.
Tive alta pela manhã, e muito tristes e silenciosos voltamos para casa depois de uma noite de terror…