Eu vivia um momento muito bom, a energia de progresso estava a minha volta e apenas o vazio da maternidade não fora preenchido, mas eu sentia que era só uma questão de tempo.
Certa tarde, a Florisa estava comigo na loja e eu estava tão feliz com a presença dela que não parava de falar, contávamos uma para a outra as novidades da vida.
Animadas descemos para a seção de antiguidades e ainda conversando paramos ao lado de uma roca de fiar muito antiga.
Repentinamente ao tocar a roda da roca, fui transportada para um outro lugar em um outro tempo.
Eu era uma mulher jovem, vestida com roupas longas, mangas compridas e gola pequena arredondada de renda, parecendo feita a mão. Na cabeça um laço de fita com uma ponta caindo sobre as costas, o cabelo muito louro e comprido.
Eu estava de pé em uma sala com assoalho de tábuas de madeira escuras e largas, ao lado de uma roca de fiar.
Sentada trabalhando na roca estava outra mulher, também muito jovem e vestida com roupas bem cuidadas e muito parecidas com as que eu usava.
Eu tinha certeza que era a Florisa, apesar dela estar diferente fisicamente de como eu a conhecia, mas sabia sem dúvida nenhuma que era eu e ela.
Parecíamos próximas e unidas como se naquele lugar também fossemos irmãs.
Repentinamente o ambiente da loja de flores foi surgindo em meio a uma névoa diante dos meus olhos. A medida que a visão foi se restabelecendo pude ver a Florisa, ela estava pálida e parecia desfalecendo.
Mal consegui ampara-la, chamei pedindo ajuda e depois de acomoda-la em uma cadeira, também me sentei ao lado dela ainda tremendo e segurando sua mão.
O mundo a nossa volta voltou ao normal, mas nós ainda não.
Continuávamos e sem entender totalmente o que havia acontecido e começamos a falar. Uma dizia algo e a outra completava, e assim fomos entendendo que vivemos a mesma experiência. Estivemos perdidas em algum lugar, levadas juntas pela energia daquela roca antiga.
Ficamos em estado de choque, nunca havíamos vivido uma experiência como aquela, aliás nem havíamos ouvido falar.
Decidimos então conversar com um Mestre da Ordem Rosa Cruz para nos esclarecer.
A noite fomos a loja da Ordem que ficava num pequeno sobrado localizado na rua vinte e cinco de Março.
O Mestre que nos atendeu disse que vivemos uma viajem astral e não deu maiores explicações.
Quando a Florisa perguntou como isso acontecia, como poderíamos ter vivido juntas e ao mesmo tempo a experiência, percebemos que ele foi desconversando e encerramos a conversa.
Um pouco frustradas voltamos para a mooca ainda conversando sobre o assunto, já que estávamos muito envolvidas naquela energia.
Na madrugada acordei de um sonho agitado o qual não conseguia lembrar, mas que sabia não ser bom pela angustia que ficara em mim.
Levantei a fim de tomar água com a intenção de aliviar a sensação ruim, quanto uma dor no abdômen me fez curvar.
Não consegui mais dormir e quando amanheceu, como a dor era violenta e não passava, fui ao pronto socorro do hospital São Cristóvão.
Tive um choque quando o médico que me atendeu disse que eu estava gravida e perdendo o bebê.
E mais uma vez a dor física se juntou a dor da perda.