Era mais ou menos quatro horas da tarde quando dona Rute chegou.
Ela foi logo conferindo tudo, inclusive contar os bombons sonho de valsa e uma metade de pêra que deixara na geladeira, recomendando que deveria estar lá quando voltasse. Assim sendo, a pêra estava preta mas no lugar, ela jogaria fora mas não daria para eu comer, como sempre, as frutas estragavam mas eu não podia come-las.
Um sentimento de pavor tomou conta de mim ao lembrar que ela me deixara de castigo e que eu não deveria mas… estava calçada.
Sendo assim, enquanto ela fazia a inspeção contei inocentemente o que ocorrera durante a noite, que por bondade seu marido além de me aquecer, me tirara do castigo.
Eu era ingênua e não conseguia entender o que se seguiu. Ela começou a me espancar literalmente, arrastou-me pelos cabelos enquanto ia pegando minhas poucas coisas e atirando espalhadas pela rua. Jogou-me no meio da rua gritando coisas como, sua vagabunda, por isso seu pai largou sua mãe, vocês não prestam, ela tem três mulheres dentro de casa com ela quatro, já dá para montar uma zona que é o que sabem fazer.
Me vi no meio daquela pequena praça com minhas roupas espalhadas, dolorida e apavorada. Olhei minhas calçinhas jogadas e lembrei o que aprendera com minha mãe e com a Floriza, calcinhas não se deve deixar a mostra nem no varal. E elas estavam lá, jogadas, expondo minha intimidade para muita gente que viera assistir e estavam se divertindo, riam as gargalhadas. Ninguém veio em meu auxilio e enquanto as lágrimas corriam pelo meu rosto e eu ia com os movimentos que as dores permitiam, recolhendo tudo e fazendo uma trouxa.
Eu tinha então nove anos, sem dinheiro e sem saber o que fazer ou para onde ir…
Oi mãe, como é difícil comentar aqui… É o tipo de coisa que se ouve calado mas se pensa o resto da vida. São temas muito difíceis que tocam fundo em todos nós. Só posso dizer que tenho acompanhado e, a cada segunda-feira, respeito mais e mais esta grande mulher que é Helena Martins. O dia de hoje é homenagem a você!!! E a todas as Mulheres com "M" maiúsculo.
Didio