Depois da visita do padre e do exorcismo que não deu certo, o movimento paranormal abrandava e aumentava com o passar dos dias.
Procurei um mestre da Ordem Rosacruz, que me disse que por mais que acreditassem nesse tipo de manifestação, não tinham autorização para se envolver, ou seja, não poderiam nos auxiliar em nada.
Enfim, eu não sabia mais o que fazer.
Certa noite acordei de repente e olhei para o relógio, eram 3 horas da manhã, o Amauri não estava, havia ido pescar com amigos.
Percebi que estava sonhando. No meu sonho me levantei e dei uma olhada na casa toda, que estava bem calma, aliás, calma até demais.
Ao me aproximar da escada que levava ao andar de baixo, senti um toque suave no meu ombro, ao me virar me vi diante de uma mulher de pele escura, ainda jovem e com expressão forte, mas doce.
Esta mulher fez um gesto para que eu a acompanhasse, e assim o fiz.
Ela foi me conduzindo até a cozinha, onde meio sonâmbula fui pegando alguns elementos como alho, sal grosso, pano de prato branco e muitas outras coisas das quais não me lembro.
Depois de tudo reunido, desci até a parte de baixo da casa, sempre com aquela sensação de sonambulismo.
Ao chegar no lugar onde o choro se fazia presente, coloquei todos os elementos no chão sobre o pano de prato, voltei para a cozinha, peguei uma bacia de plástico com água e desci novamente.
O silêncio era muito estranho, mas eu no meu sonambulismo não questionava nada daquela loucura.
Voltei ao lugar onde se encontrava o pano branco, coloquei a bacia com água posicionada próxima a ele, e comecei a caminhar em sentido anti-horário em volta dos elementos, e enquanto caminhava dizia palavras das quais eu não tinha conhecimento.
Não sei quantas voltas dei, mas em determinado momento percebi uma névoa, como uma cortina. Atravessei e me vi no mesmo lugar, mas de maneira diferente.
Não havia nenhuma construção, ou seja, minha casa havia desaparecido. Estava em uma mata fechada que me cercava e ouvi o choro desesperado, bem próximo, eu conhecia aquele choro, então me aproximei.
Encontrei uma mulher desesperada tentando salvar seu filho que estava sendo atacado por um animal.
Pensei em fazer algo, mas não conseguia me mover, apenas assistia.
A mulher não conseguiu salvar a criança e desesperada olhou na minha direção. Consegui com dificuldade me aproximar, mas não conseguia toca-lá, apesar de ter fortemente o desejo de abraça-la, de dar algum conforto para aquela dor.
A mulher morena que me conduzira até aquele momento se aproximou da mulher que chorava compulsivamente expressando sua dor, elas se abraçaram e foram juntas se envolvendo em uma luz, desaparecendo.
Me vi caminhando ainda como sonâmbula de volta a minha cama, e continuei dormindo.
Acordei na manhã seguinte me lembrando do sonho com clareza.
Fiquei curiosa e desci até o andar de baixo onde encontrei a bacia com água e o pano com os elementos que havia juntado no meu sonho.
O bicho que atormentava minha filha e o choro da mulher, nunca mais se repetiram.
Quanto a mulher morena que me guiou no sonho?
Muito tempo depois descobri que se chamava, Jerusa…
Salve Jerusa!
Salve Jerusa da rosa do espinho, do espinho da rosa, me mostre o caminho…