Quando a Cida estava perto de ter o bebê, o Polaco foi levado de volta para Marilia.
Sem o Polaco, que era meu grande companheiro inclusive das “artes” e desaforos com a Cida, me apeguei ao Dito, ele me ensinou grandes artes e o sentido de lealdade.
Era comum ele prender os bezerros para eu montar (eu montava muito bem, sempre procurando imitar meu pai até nos movimentos do meu corpo sobre o cavalo) e foi assim que descobri que a pele do boi é mole parecendo até solta e portanto difícil de ficar sobre ele.
Eu e o Dito fazíamos rodeios com os bezerros, e nós dois éramos os peões. Isto acontecia sempre escondido e ficávamos bem quietos quando meu pai reclamava que os bezerros não estavam mamando direito e que os ubres das vacas estavam ficando cheios enquanto os bezerros emagreciam.
Nós éramos os responsáveis por separar os bezerros das vacas no final do dia, para que eles não mamassem durante a noite e assim elas terem leite para os queijos e outras coisas.
Na madrugada depois que ordenhávamos, tínhamos que soltar todos no pasto para que seguissem a natureza, ou seja, mamar o dia inteiro.
Era neste momento que realizávamos nosso rodeio, deixando os bezerros tão cansados e estressados que não mamavam o quanto deveriam.
Sempre depois desta grande arte, galopávamos pelo pasto gritando como índios até a sede da fazenda, onde deixávamos os cavalos e seguíamos para a escola (não podíamos ir a escola com os cavalos, porque não tinha como tratar deles enquanto estudávamos).
Meu pai entendia muito de gado e vinha estranhando o comportamento dos bezerros, estava muito desconfiado e depois de conversar várias vezes comigo e com o Dito na tentativa de descobrir alguma coisa, nos seguiu descobrindo o que ocorria.
A mais ou menos uns cinco quilômetros da sede da fazenda morava a madrasta do Dito, Jorgina era o nome dela. O nosso castigo foi durante uma semana caminharmos os cinco quilômetros a noite para dormirmos na casa dela.
Saiamos com medo e segurando um no outro, a lua fazia com que sombras surgissem no meio do cafezal. Estávamos proibidos de levar lanterna e assim tudo ficava mais difícil. Ouvíamos passos correndo a nossa volta, gemidos de todos os lados.
Naquela semana o demônio se divertiu muito comigo, pois se apresentava no meio da escuridão de diversas formas, debochando do meu medo com suas gargalhadas. Eu não dizia ao Dito o que estava acontecendo comigo, porque ele já tinha o medo dele para lidar.
Apesar de tudo, eu não sentia raiva do meu pai, mas sim da Cida, sempre me convencendo que de alguma maneira, ela era a responsável pelo castigo…