Voltamos ao trabalho espiritual na segunda-feira seguinte, eu vestida como descrevi anteriormente e preparada para qualquer coisa.
Estava duvidando da minha firmeza, a qual sempre me inspirava orgulho, e em alguns momentos daquela semana, havia até questionado minha sanidade mental.
Enfim, mais uma vez entramos na garagem da moça amiga da Florisa.
Me surpreendi porque a dor de cabeça não deu sinal e isso pra mim chegava a ser estranho.
O lugar de costume estava esperando por mim, então me sentei.
Desde que começamos a ir aos encontros com frequência, as pessoas de maneira gentil deixavam aqueles lugares reservados para nós, e sendo assim, nos sentávamos sempre ali, o mesmo que descrevi em nossa primeira visita, eu e a Florisa no canto do sofá em formato de L, uma ao lado da outra.
Nessa noite como sempre, estávamos acomodadas no lugar costumeiro e eu esperando a dor de cabeça.
Ela (a dor de cabeça) não deu sinal.
Abaixei a cabeça, segurei-a entre as mãos, e nada.
Tentei buscar na memória emocional a leve tontura que antecedia a dor e nada. A Florisa olhava para mim de vez em quando e pelo seu olhar eu sabia que esperava o acontecimento de sempre.
O som do toque do atabaque encheu o ambiente, as pessoas cantaram, bateram palmas, rodaram, e eu esperando pela dor de cabeça e pela aproximação da moça falando como baiana.
Mas nada disso aconteceu me deixando ainda mais surpresa, já que constatei que agora que havia me preparado psicologicamente, não estava acontecendo nada daquilo que já era comum.
Repentinamente baixei a cabeça e comecei a chorar como da última vez que estivera ali, e novamente perdi o tempo e o controle.
Enquanto eu me perguntava porque estava chorando, a minha cabeça procurava motivos para esse fato inexplicável, sem encontrar.
Por um momento lembrei aliviada que estava sem maquiagem e que esse tipo de pensamento não combinava em nada com o que ocorria naquele momento.
Era como se meu cérebro estivesse fazendo dois caminhos ao mesmo tempo, um desgovernado e outro tentando assumir o controle .
Quando o choro parou repentinamente, a moça falando como baiana perguntou sem se aproximar: – Você está bem?
Fiz um gesto de sim com a cabeça enquanto confirmava para mim mesma que estava me sentindo ótima.
Só nos dias que se seguiram pude analisar o fato por todos os ângulos, o que não me explicou nada.
Observei por exemplo que a moça não se aproximou como fez nas vezes anteriores, qual seria o significado? Nada.
A dor de cabeça não apareceu e o que isso significava? Nada.
O tempo que aquela loucura durou, pelo que disseram, foi aproximadamente quarenta minutos.
Verifiquei que a minha calça jeans na altura da coxa estava ensopada e a Florisa disse que foram minhas lágrimas.
Nunca vi tanta lágrima de uma só vez, disse ela.
Agora mais que nunca eu continuaria a voltar naquele lugar, afinal era só lá que minha loucura se manifestava…