Minha mãe conseguiu uma bolsa (na época chamava-se caixa), para que eu continuasse a estudar.
Eu não tinha o menor problema pelo fato de ser uma aluna da caixa, vestia com orgulho meu uniforme e era muito dedicada. Aproveitava todo meu tempo livre para estudar.
Nesta época, minha mãe começou a aprender a ler com uma amiga, e passamos a estudar juntas, uma ajudando a outra.
Era um orgulho e prazer, minha mãe ao meu lado também na hora das lições.
Certo dia eu estava na aula de educação física e fui chamada pela diretora, fui preocupada falar com ela já achando que alguma coisa errada que eu havia feito, para minha surpresa ela me convidou para fazer parte da fanfarra como baliza.
Não dormi naquela noite de tanta felicidade, ficava mentalmente me vendo realizando os movimentos de estrela com os bastões na avenida Sampaio Vidal, onde aconteciam os desfiles.
Ao mesmo tempo sentia vergonha, medo de errar as acrobacias, dos bastões caírem de euforia pela posição, a cidade inteira iria me ver.
Passei a ensaiar com a fanfarra nos finais de semana, até que chegou o dia do meu primeiro desfile.
As professoras da escola fizeram a minha roupa, era branca e azul bem curta com pregas largas, colete justo com cordões abotoando na frente, na cabeça um chapéu que me deixava esguia e botas que subiam até os joelhos.
Olhei para a minha imagem refletida no espelho e aprovei. Sentia-me segura, era a chance que precisava para provar a mim mesma, que era capaz de algo tão grandioso.
O desfile aconteceu, e eu em meio a multidão que na época se aglomerava para ver estes acontecimentos, sentia-me realizando um grande encantamento, via-me como um soldado marchando com segurança e delicadeza para cumprir uma missão.
O resultado… nossa escola ganhou como a melhor fanfarra e eu como baliza.
A partir deste dia passei a ser respeitada pelas meninas ricas que estudavam naquela escola…