A Florisa trabalhava o tempo todo costurando, ela sempre tinha encomenda de vestido de noiva.
Como a terra vermelha se espalhava por tudo, para não suja-los, ela trabalhava com eles enrolados em lençois o tempo todo.
Eu amava ver as noivas quando vinham experimentar seus vestidos. Muitas vezes elas eram de sítios vizinhos a cidade, então se vestiam na casa da Florisa e dali partiam para a igreja. Eu as achava lindas como princesas.
Eu vivia dizendo a Florisa que não ia me casar nunca, mas não explicava porque, dentro da minha mente, eu sabia que tinha medo de passar pelo que minha mãe passara.
Certa noite eu estava dormindo, quando acordei com a voz da minha mãe me chamando na porta que dava para o quintal, levantei-me as pressas e fui abrir a porta, não havia ninguém. Desci o pequeno degrau e caminhei pelo quintal me certificando que minha mãe não estava ali, voltei para dentro de casa e só então me dei conta de que naquele horário, não havia ônibus chegando à cidade, portanto seria impossível minha mãe estar ali me chamando.
Passei o restante da noite acordada, sentindo que minha mãe precisava de mim, assim quando a Florisa acordou, contei a ela o ocorrido e falei da minha vontade de ir até a cidade de Marilia saber o que estava acontecendo.
Naquele tempo a comunicação era difícil, o mais comum era por carta, portanto entre enviar e receber resposta, a demora era de mais ou menos quinze dias, e meu sentimento me fazia entender que era urgente.
Falando em comunicação, na cidade havia um único telefone, que ficava na casa da telefonista.
Era um luxo. Ele era feito de madeira, tinha uma parte que ficava pendurada na parede (o bocal) e outra pendente por um fio grosso (o fone), que era retirado de uma manivela e levado até o ouvido, enquanto a parte que ficava na parede, recebia o som da voz de quem o estivesse usando.
Era um luxo. Ele era feito de madeira, tinha uma parte que ficava pendurada na parede (o bocal) e outra pendente por um fio grosso (o fone), que era retirado de uma manivela e levado até o ouvido, enquanto a parte que ficava na parede, recebia o som da voz de quem o estivesse usando.
Como na casa da mamãe em Marilia não tinha telefone, não podíamos usar este recurso, então só me restava ir até lá.
A Florisa não gostou nada daquilo e até chegou a duvidar, achando que eu inventara tudo por estar com saudade da minha mãe.
Ao perceber que minha aflição era real, o Rolando intercedeu e a Florisa acabou concordando que eu fosse para Marilia no mesmo dia…