Nos fundos da casa da Florisa, havia um grande quintal, nele ficavam além da casinha (lugar para as necessidades fisiológicas), uma horta e um galinheiro, que eram cuidados por Dona Alzira mãe do Rolando, com muito amor.
A salada, os ovos e o frango eram frutos destes cuidados, ainda tenho registrado na lembrança o sabor, muito diferente de hoje em dia.
O varal onde as roupas eram estendidas para secar, também ficava nesse grande quintal. Era comum eu cantar enquanto estendia as roupas, sempre concentrada no trabalho.
Certa manhã, estava eu estendendo roupas, quando tive a sensação de que alguém me olhava. Virei tentando entender a sensação, e me deparei com um par de olhos que me fitavam por entre o vão da cerca feita de ripas bem aparadas, que dividia o quintal de uma oficina mecânica, instalada nos fundos de um posto de gasolina.
Aquele olhar era de um menino sujo de graxa, que ficou encabulado ao ser descoberto, e se afastou para perto de um carro começando a trabalhar nele.
Tive dificuldade para prender as roupas no varal, os prendedores caiam das minhas mãos que tremiam. Não entendia o que estava acontecendo comigo. Meu coração estava disparado, e por mais que eu tentasse fazer de conta que não vira aquele menino, meus olhos teimavam em se voltar para o lugar onde ele estava.
Naquela noite demorei para dormir, rezei o terço três vezes, e só depois de muito tempo adormeci, não sem antes sorrir ao pensar que logo amanheceria e eu poderia ver aquele olhar novamente…
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