Minha infância na cidade de Rancho Alegre era muito feliz e despreocupada. Nada nos faltava, meu pai cuidava de todos, inclusive de outras famílias, e eu adorava quando ele pedia (não, meu pai não pedia, ele mandava) o vendedor de laranjas deixar o caminhão inteiro e distribuir pelos vizinhos, assim também era com o vendedor de milho, entre outros… Sentia-me protegida.
Brincávamos pelas ruas, na roça de capim, na casa de todo mundo, mas principalmente na casa do açougueiro (Sebastião Bello) e dos japoneses (Tanaka) que moravam do outro lado da rua.
A Floriza já não brincava como nós, ela ajudava na farmácia, vendendo, fazendo curativos e preparando comprimidos amassados num pilão que eu e a Nenem vivíamos pegando escondido para brincar. Adorávamos o pilão, era de um material que hoje eu penso ser mármore com uma mãozinha do mesmo material. Eu admirava a Floriza, achava ela linda, sempre muito bem vestida e ajuizada.
Não sei ao certo a minha idade mas ainda morávamos em Rancho Alegre quando tive o primeiro contato com alguém que havia morrido. Eu estava no quintal olhando para o céu contemplando as nuvens (isto era habito, ficar distraída contemplando) quando um menino gemendo parou ao meu lado e disse que precisava de ajuda lá no pasto porque o cavalo dele havia disparado.
Chamei o Rolando que morava ao lado e na época era um menino, ele não entendeu quando eu disse que o menino pediu ajuda e desapareceu, mas chamou o pai dele Sr. Remigio, um italiano enorme na minha visão de criança.
Quando chegaram ao pasto onde eu havia indicado, o cavalo do menino estava parado suando e o menino morto ao lado com uma corda amarrada na cintura. Ele havia sido arrastado pelo cavalo até a corda apertar tanto que quase dividiu seu corpo ao meio, acho que o choque daquela visão foi tão grande que as pessoas não se deram conta que eu não poderia saber daquele acontecimento de onde estava, e quando falei com a Floriza, ela disse que eu devia rezar o terço e não tocou mais no assunto. Fiquei achando que ela não prestou atenção no que eu dissera. Eu nunca mais falei a respeito. Volta e meia via o menino andando pelo pasto e rezava de novo o terço.
Depois deste fato as coisas começaram a se complicar, eu me via entre o mundo dos vivos e dos mortos e mesmo assim, não deixei de ser criança e brincar.
Como eu me assustava com as coisas do outro mundo, meus irmãos começaram a fazer piada, por exemplo: ela é tão feia que se assusta com o espelho. Isto porque eu não gostava de olhar no espelho, nele eu via pessoas, sombras, formas… as vezes boas, mas na maioria das vezes feias e ruins. Naquele tempo as pessoas eram muito sofridas, e na região tinha muitos refugiados de guerra.
Morava próximo da nossa casa uma sra. Italiana, ela dizia falar com os mortos e gritava. Meu pai era o responsável por amarrá-la na cama e aplicar injeções para acalmá-la. Ela era considerada louca.
Eu via aquilo e sentia muito medo. Eu via as mesmas pessoas que ela dizia ver. Eu ficava na porta e via pessoas mutiladas sentadas em bancos no interior da casa.
Por causa do medo de contar e meu pai fazer a mesma coisa comigo, fui ficando cada vez mais silenciosa sobre o que me ocorria, e as pessoas que viviam comigo, minha família, não percebiam. Naquele tempo as pessoas não ligavam muito para as possíveis dificuldades das crianças, cada um se salvava como podia, e eu considero que meus pais eram atenciosos e amorosos. Naquele tempo era assim…
muito bem… agora começa a esquentar! e em pleno dia das bruxas!senta que lá vem estória…rs
Tchan,Tchan,Tchan,Tchan…. Como será que Helena conviveu com essa situação????
Aguardem… em breve (segunda) o próximo capítulo.
Bjs
Andréa Olearo
isso é bem peculiar p mim rsrs