Entrei na sala ainda com a toalha enrolada no cabelo, o Rolando estava sentado em sua cadeira de balanço feita de junco e vime, a Florisa estava ao lado esperando os acontecimentos. Ele começou a falar:
– Zinha, você está aqui em casa e é nossa responsabilidade cuidar de você. Quero saber o que está acontecendo e de quem é a moto que está no portão?
Eu respondi:
– Nada está acontecendo e a moto é do mecânico que trabalha na oficina ao lado.
Ele com autoridade de pai, perguntou o nome do mecânico, e eu respondi, não sei, o apelido dele é Formiga.
Ele fez um gesto de desagrado e disse:
– Não acredito! Ele é filho do Lázaro, nosso inimigo político.
Em Rancho Alegre a disputa política era coisa séria. A cidade era dividida, inimigos políticos nem sequer compravam nos estabelecimentos comerciais dos adversários.
Fiquei muda por um tempo sem entender o que acontecia e o que eu fizera de tão grave. Quando consegui falar novamente eu disse:
– Desculpa-me eu não ter perguntado se ele podia guardar a moto. Estava chovendo muito, ele vem mais tarde buscar.
Ouvi a resposta do Rolando ainda no mesmo tom de voz., quando ele voltar vou ter uma conversa com este moleque e saber o que está acontecendo.
Tremi mais ainda ao pensar no que poderia acontecer e preocupada pela possibilidade do Rolando e a Florisa me mandarem de volta para Marília.
Perguntas passearam pela minha cabeça de tal maneira, que só aumentavam meus medos e já me sentia humilhada pelo que teria que enfrentar sem saber direito o que seria…