Quando faziamos faxina na casa, era comum subir o cheiro da terra molhada, lavávamos até as paredes com a mangueira de água.
Certo dia, depois de ter terminado a faxina e como era meu costume, sentei-me na cadeira de balanço do Rolando para apreciar o trabalho realizado e senti uma leve tontura.
Fechei os olhos por um instante, e tive uma visão do Biba caído em algum lugar que não conseguia identificar.
Com dificuldade, retomei a consciência e sai em direção a casa da Dona Alzira, atravessei o quintal me desviando das galinhas que neste momento estavam soltas e fui chamando pelo Biba.
Quando Dona Alzira apareceu na porta da cozinha, rapidamente perguntei se ela sabia onde ele estava. Ela, sem entender o que ocorria, caminhou ao meu lado até o armazém, enquanto contava que ele estava limpando o carro do Rolando na garagem.
Quando chegamos na garagem, o carro estava com o capô aberto, o Biba com o corpo caído sobre o motor e suas pernas penduradas. Por alguns dias aquela imagem me veio em sonho, era como se o carro estivesse engolindo o Biba.
Eu e a dona Alzira não tivemos forças para tirá-lo de onde estava, então ela gritou chamando o Rolando e o Sr. Remigio. Os dois chegaram juntos e num único movimento, o Sr. Remigio levantou o Biba e o colocou nas costas, dirigindo-se para dentro da casa, e todos nós o seguimos.
O Sr. Remigio era um italiano grande e forte, levou o Biba como se carregasse um saco de milho, sem tropeçar ou demonstrar dificuldade.
Colocou o Biba desmaiado sobre o colchão de palha rasgada, na cama que havia sido da Nona. O colchão fez o barulho que lhe era peculiar quando estava com as palhas afofadas.
O que vi em seguida foi a Florisa estendendo suas mãos sobre o estomago do Biba e fazendo massagem em forma de círculo, enquanto pedia a Dona Alzira que trouxesse leite. Em volta das mãos da Florisa vi a mesma luz que via nas mãos do meu pai quando estava cuidando de alguém doente, assim entendi que ela tinha os mesmos dons que ele. Fez com que o Biba se sentasse e tomasse grandes goles de leite, até que ele vomitou, e só relaxou quando ele já havia recuperado com dificuldade a consciência.
Por orientação da Florisa, as janelas permaneceram abertas e o Biba na cama. Ela disse que o gás que existe na gasolina havia sido inalado por ele, e que por algum tempo ele deveria ser cuidado.
Me coloquei a disposição para isso, e foi assim que passei a noite ao lado da cama vigiando qualquer movimento e respondendo ao Sr. Remigio que tudo estava bem, cada vez que ele perguntava lá do seu quarto.
A casa era feita de madeira e as paredes só até uma determinada altura, a partir dali eram abertas, podendo ser ouvido de um cômodo ao outro tudo que ocorria.