Era mais ou menos duas horas da manhã e eu ainda no baile ouvi o choro de um bebê. Olhei para todo o salão e como não havia nenhuma criança pensei que poderia ser um gato, muitas vezes os gatos miam emitindo um som como o choro dos bebês.
Alguns minutos depois, em meio a música e o barulho das pessoas conversando ouvi novamente o choro. Lembrei-me da Jaqueline sendo colocada ao lado do Rolandinho na cama que havia sido da Nona, para que a Dona Alzira pudesse cuidar deles mais facilmente enquanto estivéssemos no baile.
Como relatei anteriormente, nossos colchões eram feitos de um tecido de algodão costurado como capa e cheios de palha de milho seco rasgada ou de taboa. No tecido que servia de capa havia uma fenda por onde colocávamos a mão para afofar o enchimento na hora de arrumar a cama, deixando o colchão alto e macio e quando nos virávamos sobre ele fazia um barulho peculiar.
O colchão da cama que havia sido da Nona era de casal recheado de palha, e era onde o Rolandinho e a Jaqueline dormiam naquela noite quando saímos para o baile.
Estava procurando disfarçar a inquietação que havia se instalado em mim quando ouvi novamente o choro.
Levantei-me e sem conseguir explicar ao Laércio o que se passava, apenas disse que precisava ir para casa naquele momento.
Ao mesmo tempo que falava fui saindo seguida por ele contrariado. Percebi ele fazendo um gesto para o Rolando que estava com a Florisa do outro lado do salão mas não parei, apressei ainda mais o passo.
Enquanto eu caminhava apressada quase correndo, ouvi ele perguntando se eu estava passando mal num tom de contrariedade. Eu não respondi, estava mais uma vez perdida nas minhas loucuras.
Quando atravessei o estreito corredor eu já estava literalmente correndo.
Ao entrar na casa da Dona Alzira fui direto onde as crianças estavam e a Jaqueline não estava na cama, apenas o Rolandinho dormia profundamente.
O Sr. Remigio e a Dona Alzira acordaram com o barulho e vieram ver o que estava acontecendo e se juntaram a nós em preocupação.
Ouvíamos o choro da Jaqueline mas não a encontrávamos e o choro parecia que estava enfraquecendo.
O Rolando entrou seguido da Florisa e os dois foram também envolvido no clima de angústia quando sem dizer nada o Sr. Remígio com as duas mãos rasgou a capa do colchão tirando a Jaqueline que já estava quase sem conseguir respirar do meio das palhas.
Ocorrera que de tanto se virar enquanto dormia, ela havia entrado pela fenda do tecido da capa do colchão e lá dentro quanto mais ela se mexia mais sufocava. Como a Dona Alzira havia dormido não percebeu o acontecimento.
Deste episódio, sobrou apenas alguns pequenos arranhões feitos pelas palhas no rostinho e mãos da Jaqueline e muito susto para todos nós.
Depois de nos certificarmos que tudo estava bem a Dona Alzira fez café e ficamos na cozinha conversando sobre o ocorrido até o dia amanhecer. Todos estavam curiosos para saber como eu percebera o que estava acontecendo e não se conformavam com a minha explicação.
Eu não sabia, apenas seguira o choro. Não poderia dizer a eles a verdade. Eu seria excomungada. Era o que eu pensava.
Na Hora de dormir eu estava exausta mas não deixei de fazer as minhas orações e agradecer aos meus amigos invisíveis por terem salvo a vida daquele serzinho tão amado…
Salve sua grandeza Mãe querida! Obrigada por fazer parte da minha vida! Amo-te!!!