Em determinado momento acordei com a Lisete me chamando e perguntando se eu queria ir ao banheiro, pois estávamos chegando em São Paulo.
Fui ao banheiro e me lembrei da única viajem de trem que fizera antes desta e que apesar de curta, ficara a maior parte do tempo escondida no banheiro. Desta vez eu podia circular entre as pessoas sem medo e por isto já me sentia vitoriosa.
Voltei e a Lisete me deu o lugar ao lado da janela para que eu pudesse observar melhor os lugares por onde o trem passava e fui ficando cada vez mais surpresa. Havia muito tempo que ela me dissera que estávamos dentro da cidade de São Paulo e a estação não chegava nunca.
Isto tudo é São Paulo, dizia ela rindo da minha curiosidade.
Tudo que via era novidade e meus sentidos estavam alerta a tudo. Imagens, cheiros, cores.
O trem parou e quando desembarcamos foi outra surpresa, descemos em um lugar deslumbrante e não direto na rua como eu havia imaginado, estávamos na Estação da Luz. Que construção linda, quanta gente andando para todos os lados, carregadores com seus uniformes oferecendo seus serviços.
Eu estava perdida com tantas coisas lindas e novas para ver. Olhava em todas as direções e tentava seguir a Lisete que volta e meia pegava minha mão para me puxar, a fim de segui-la na direção certa.
Ela se divertia com minha curiosidade e parecia feliz por estar me proporcionando uma grande aventura.
Prestei mais atenção quando ela disse que iríamos de taxi, já que ela sempre ia de ônibus até a casa da irmã.
Quando entramos no taxi ela deu o endereço, Avenida São João. E lá fomos nós, através daquela cidade imensa.
Continuei olhando tudo pela janela do taxi. Nunca havia visto prédios tão altos, os bondes com seus cobradores pendurados nas laterais, semáforos, coisas aliás que eu nunca sequer ouvira falar. Tudo que eu via me encantava e a Lisete procurava me explicar quando eu perguntava.
Chegamos a Avenida São João e depois de pagar o taxista, nos dirigimos ao prédio onde a irmã da Lisete morava.
Eu nunca entrara em um elevador e foi um pouco difícil entender como funcionava. A Lisete estava tentando explicar, quando chegamos ao andar que deveríamos descer.
A Nete, (este era o nome da irmã da Lisete que eu só fui conhecer neste dia) era surpreendentemente pequena para alguém de idade adulta, era menor que eu.
Enquanto pensava que ela era um pouco mais alta que uma anã, olhei para seus pés e vi que estava calçada com sapatos extremamente altos, o que me pareceu ainda mais estranho porque seus pés eram muito pequenos.
Nos dias que se seguiram tive a oportunidade de saber que não existia sapato de adulto no tamanho dos seus pés, nº 22. Assim sendo ela mandava fazer todos, inclusive aqueles tamancos para ficar dentro de casa, eles tinham treze centímetros de altura o que para um pé tão pequeno dava a impressão de sapato de boneca.
Enfim entramos no apartamento, que por sua vez também era muito pequeno. Fora o banheiro minúsculo, tudo se resumia a um cômodo. Quarto, cozinha e sala, tudo era junto.
– Esta é a minha Kit. Disse ela se dirigindo a mim, que ainda estava atordoada com tantas novidades.
Fui me aproximando da janela vi que estávamos bem alto (não me lembro em que andar estávamos) e quando olhei vi uma placa indicando um cinema do outro lado da rua e perguntei o que queria dizer Comodoro, a Lisete rindo disse:
– É o nome do cinema.
Era de manhã, o dia estava começando e a Nete foi trabalhar nos deixando na kit. Observei o quanto ela era exótica, requebrando os quadris enquanto se equilibrava no salto e caminhando em direção ao elevador.
A Lisete disse que tomaríamos banho e já sairíamos para as compras a fim de aproveitar o dia.
Enquanto pela primeira vez na minha vida eu tomava banho de chuveiro elétrico, observei aliviada que não havia sido atropelada…