Na manhã seguinte acordamos cedo para continuar as compras e neste dia o destino era o Parque Dom Pedro, principalmente a rua vinte e cinco de março.
Passamos por becos e labirintos, entrávamos em uma rua e saíamos em outra, subíamos e descíamos em prédios com lojas em todos os andares. A impressão que eu tinha é que se procurássemos um camelo para comprar, iríamos encontrar por ali, tantas eram as variedades de produtos oferecidos.
A Lisete fez o mesmo esquema do dia anterior com as sacolas, eu observava sua desenvoltura e experiência. Desejei ser como ela e disse a mim mesma que faria tudo para acompanhá-la nas próximas viagens, queria aprender a me movimentar na cidade, que por si já era uma aventura.
Era sábado e as lojas fechavam mais cedo, assim sendo mais ou menos as quatro da tarde já estávamos na Kit da Net.
A Lisete depois de tomar banho se jogou na cama exausta, fiz uma massagem em seus pés com um sentimento de gratidão imenso, talvez nunca tivesse oportunidade de viver aquela aventura se não fosse por ela.
Ela disse que naquele dia descansaríamos, todas as compras haviam sido feitas e seriam embaladas por nós duas no dia seguinte, para então despachá-las no ônibus que nos levaria de volta a cidade de Marília.
Ela estava meio cochilando e eu sem nada para fazer. Me aproximei da janela e olhei em direção ao cinema, fui tomada por uma emoção ao pensar na possibilidade de ir até lá sozinha e assistir a um filme.
Calculei cada passo que teria que realizar, sair pela porta, pegar o elevador, chegar na avenida, me situar, atravessar a rua, procurar a bilheteria, falar com quem estivesse vendendo, comprar o bilhete, achar a porta de entrada, procurar um lugar para sentar. Oh meu Deus!
Repeti mentalmente várias vezes antes de falar com a Lisete. Ela talvez por estar meio dormindo disse que eu poderia ir, que pegasse dinheiro na carteira dela e que não esquecesse de levar a chave.
Procurando ser o mais rápida possível para a Lisete não voltar atrás, peguei o dinheiro, a chave e sai puxando a porta devagar.
Caminhei pelo pequeno corredor escuro até o elevador e ao procurar o botão de chamada percebi minha mão tremendo.
A entrada do prédio era um pequeno hall com uma porta de ferro e mais nada, sem dificuldade sai para a avenida e caminhei até a esquina para atravessar a rua, de acordo com os ensinamentos que recebera da Lisete.
Atravessei a Avenida São João sozinha! Era uma conquista!
Diante da bilheteria olhei o horário que iria iniciar a sessão, faltavam dez minutos para começar e eu já poderia entrar. Comprei o bilhete, voltei para a calçada, olhei em direção a janela da kit da Net. O sorriso brotou sem pensamento nenhum, apenas sorriso..