Durante a viagem de trem, combinamos o que falar para o Tio Ataíde e para a Tia Madalena, diríamos que a mamãe sabia que iríamos morar em São Paulo, e que concordara com a idéia.
Até isso ser comprovado já teria se passado pelo menos uns quinze dias, esse era o tempo que as cartas demoravam de São Paulo a Marília, assim já estaríamos trabalhando e nada mais poderia ser feito.
Em nossa cabeça era tudo simples assim, então seguimos com nosso plano.
Não contávamos com o fato da mamãe, quando não voltamos para casa na data certa, ao invés de esperar notícias por carta tomou o trem para São Paulo.
Só soubemos de todas as dificuldades que ela vivera, muito tempo depois, ela nunca estivera na cidade de São Paulo, a não ser no período em que estivera internada, portanto confinada. Nunca andara pela cidade e assim, a surpresa dos tios ao vê-la chegando ao portão.
O alivio da mamãe ao nos encontrar bem era visível, e olhando seu rosto, tive noção do tamanho da arte e da maldade que eu e a Neném havíamos feito.
O Tio Ataíde ficou muito bravo, e falou tudo que minha mãe não falou, só faltou nos dar uma surra. E nós ouvíamos sabiamente caladas.
Apesar de toda aquela confusão, eu estava determinada a não voltar mais para Marília, e a Neném seguia o mesmo pensamento que eu.
A mamãe se esforçou para nos levar de volta, inclusive disse que iria reconsiderar e que o Gerson não ficaria mais na casa dela, mas eu estava inflexível e por mais que tentasse explicar que não era mais pelo Gerson, e sim porque achava que seria uma oportunidade de mudança de vida, ela não acreditava.
O fato de termos deixado claro no princípio da conversa que o motivo era o Gerson, fazia com que ela se sentisse culpada e não acreditasse nos novos argumentos.
Por fim, com a intervenção de nossos tios e da nossa prima Verônica, a mamãe consentiu que ficássemos como experiência. Se dentro de um mês não encontrássemos trabalho voltaríamos para Marília.
Eu estava segura que nos sairíamos bem, e que conseguiríamos mandar dinheiro para ela…