Acordei e ainda estava escuro, o homem que me dera emprego esqueceu de me dizer a que horas eu deria chegar, e eu não perguntara, então era melhor não fazer feio logo no primeiro dia.
O tio Ataíde me disse que para chegar a qualquer lugar de São Paulo eu deveria ir primeiro a Praça da Sé, que lá qualquer fiscal dos pontos de ônibus me informaria o que fazer.
Com esta orientação sai de casa com o dinheiro da passagem contado para ida e volta.
Já dentro do ônibus seguindo para a Praça da Sé, procurei me informar com uma senhora como ir a Rua Silva Bueno, ela me explicou que se eu descesse no Parque Dom Pedro seria mais fácil, porque a Rua Silva Bueno começava bem perto do Parque Shangai, que era muito próximo ao Parque Dom Pedro. Agradeci a ela e desci no lugar indicado, caminhei uma boa distância até chegar ao parque, mas era impossível perder a direção, já que de longe podia se avistar a roda gigante.
Fiquei encantada com o Parque Shangai, principalmente com a roda gigante, que era gigante mesmo, não como aquelas dos parques do interior que eu conhecia. Estava admirando os brinquedos quando lembrei que tinha que chegar ao trabalho e ainda não sabia como.
Pedi informação em uma banca de jornal, o senhor que me atendeu disse:
Dá para chegar a pé a Rua Silva Bueno mas é longinho, e indo por aqui você vai encontrar o começo dela, é uma rua muito longa e no nº que você vai acho difícil chegar a pé.
Eu tinha o dinheiro contado para uma condução de volta então não dava para pensar, alem do mais já estava ficando tarde, ou seja, eu tinha que começar a andar.
Depois de muito tempo e de muitas paradas para informações, finalmente estava na Rua Silva Bueno, agora era caminhar para encontrar o nº da loja onde iria trabalhar.
Caminhei até as três horas da tarde e o nº não existia, cheguei ao final da rua, as pernas não queriam mais obedecer.
Pensei na volta, e decidi que entraria em todas as lojas de tecido ou cortina que tivesse, o homem que me dera o emprego certamente errou ao escrever o numero. Como a rua estava certa, eu não poderia deixar de entrar em todas as lojas possíveis, até encontrar aquela onde eu iria trabalhar.
Este pensamento deu-me animo para a volta. Não estava derrotada, ainda não era o fim.
Caminhando com muita dificuldade entrava em cada loja e mostrava o papel com o nome do homem que me contratara, eu percebia um clima esquisito, as vezes até um sorriso de canto em algumas pessoas, meus pés estavam inchados e doendo muito, foi quando entrei em mais uma loja e pedi se poderia me sentar um pouco.
A gerente da loja olhou para meus pés e ofereceu um banquinho que estava atrás do balcão, depois de tomar o copo de água que ela me trouxera, contei o que estava acontecendo e lhe mostrei o papel com o nome e o endereço. Ela com uma expressão de revolta disse:
– te passaram um trote, John Fitzgerald Kennedy era o presidente dos Estados Unidos que foi assassinado…