Sentada no ônibus que me levaria para casa, olhei pela janela procurando estrelas para disfarçar a confusão de sentimentos que teimavam em brotar, mas na cidade grande e cheia de luz, fica mais difícil ver as estrelas e a consciência deste fato era o que faltava para eu desabar num choro silencioso, sem a menor chance de consolo naquele momento.
Pensava na capacidade humana de fazer tamanha maldade com outro da mesma espécie, enquanto as lagrimas silenciosas desciam pelo meu rosto.
O inchaço dos pés já havia chegado aos joelhos e a dor era insuportável.
Quando cheguei ao ponto desci me arrastando, literalmente. Não conseguia por os pés no chão, um senhor vendo minha dificuldade ajudou-me a sentar na calçada.
Exatamente neste momento, outro ônibus parou e uma senhora cheia de sacolas desceu e veio em minha direção. Perguntou-me o que estava acontecendo e depois de ouvir minhas explicações, disse que iria até a casa dela, que ficava bem próxima, deixar as sacolas e que voltaria para me ajudar.
Ela conhecia meus tios e propôs chamá-los, e só então pensei no que seria quando chegasse em casa.
Sabia que para meus primos o ocorrido serviria de piada, mas para meus tios seria motivo de nos mandar de volta para Marília, e isso eu não queria.
Expliquei a Dolis (este era o nome da senhora que estava me socorrendo) minhas preocupações, e ela prometeu que pensaria em algo para dizer aos meus tios.
Fiquei ali sentada na calçada esperando aquele anjo da guarda que voltaria para me resgatar e enquanto isto chorei de dor e desolamento.
Quando a Dolis voltou trouxe um casal de seus vizinhos, e os três juntos me levaram carregada até a casa dela.
Soube então que este casal veio da Grécia e estava iniciando a vida no Brasil, a mulher Dona Maria quase não falava português, portanto se comunicava com grande dificuldade, ele Sr. Anastácio, trabalhava em uma Cervejaria na Mooca, exercercendo um cargo de grande importância.
A Dolis contou uma mentira para meus tios e para a Nenem, disse que ela havia me encontrado no ônibus, que o emprego não dera certo e que me convidara para aprender a fazer as saias plissadas, já que ela costurava para algumas confecções no Brás.
Como tinha uma encomenda grande, pediu para que eu ficasse na casa dela aquela noite, assim poderia ajudá-la a dar conta da produção que deveria ser entregue no dia seguinte.
Pelo que ela disse, ninguém questionou nada, o que me deixou bastante tranquila.
O Sr. Anastácio acordava quatro horas da manhã e por isto precisou ir dormir, afinal já eram vinte e três horas, já a Dona Maria outro anjo, resolveu ficar e ajudar a Dolis a cuidar das minhas pernas…