Entre internação para cirurgia de retirada do duplo J, internação para novamente colocar e tentativa de litotripsia, foram tantas que perdi a conta.
A Carol fez um diário, o qual vou mostrar a vocês mais para a frente, para tentarem acompanhar aquele momento que estávamos vivendo.
Eu praticamente estava morando no hospital, ficava muito pouco em casa.
Numa das internações eu estava com muita dor e o médico que havia me colocado o duplo J não poderia me atender e mandou um outro médico me ver no hospital.
O Tuco estava comigo e muito ansioso pela vinda do médico por causa da minha dor, que era insuportável.
Quando o médico chegou, nós não o conhecíamos e ele apenas perguntou o que ocorria, explicou que meu médico não poderia vir, eu contei que estava com o duplo J e que estava com muita, muita dor.
Ele saiu do quarto e a enfermeira veio em seguida e disse que ele apenas deu alta.
O Tuco ficou transtornado e saiu do quarto.
A enfermeira me contou depois que o Tuco foi atrás do médico, chamou ele de irresponsável, que ele não era médico e outras coisa as quais não me lembro, mas para resumir disse que faltou pouco para ele bater no médico.
Resumindo ainda mais, o Tuco ligou para o médico responsável, desabafou e exigiu a presença dele.
Quando ele me examinou concluiu que o duplo J estava fora de lugar e provocando aquela dor, fui levada para a sala de cirurgia para ser recolocado e se não fosse a revolta do Tuco eu teria ido embora naquelas condições.
Algumas pessoas da Ordem entenderam a dificuldade dos meus filhos em cuidar do trabalho e me acompanhar em tantos exames, que fizeram uma lista de revezamento e se colocaram à disposição para ficarem comigo, gesto este que foi aceito por todos nós com muita gratidão.
Entre um exame e outro, descobriram que eu tinha no rim esquerdo, angiomiolipoma. E que o indicado seria uma cirurgia para retirar um pedaço do rim e já aproveitariam para limpar as pedras.
Eu já estava sendo cuidada por um urologista indicado pela Mariana e como ele já havia operado ela, confiei, mas eu tinha uma consulta marcada com uma neurologista para ter um parecer sobre o afundamento da minha cabeça.
O Tuco foi comigo na consulta com a neurologista e junto comigo soube da gravidade de deixar daquela maneira e no final da consulta ficou decidido que eu faria mais alguns exames e faria uma cirurgia grande para colocar uma placa de titânio substituindo o osso que não existia mais.
Fomos informados que seria raspada minha cabeça e que isto poderia ser feito no hospital ou em casa e já ir raspada, na semana da cirurgia nos reunimos em casa em Piracaia para o Tuco raspar minha cabeça, tentei dar ânimo para eles, estavam tristes.
Conseguimos, quase num ritual, assistir ele cortando as mechas de cabelo, as quais fomos guardando numa caixa onde estão até hoje.
Em seguida, ele raspou com a lâmina e me olhei no espelho. Pela primeira vez completamente careca.
Logicamente os outros médicos foram informados, pela própria neurologista, porque eles precisavam conversar para um não atrapalhar o outro.
Alguns dias depois eu voltava da sala de cirurgia com uma placa de titânio na cabeça.
Meus filhos estavam me esperando no quarto. Apesar da tensão, estavam firmes. Quando a médica veio falar com eles, contando que a cirurgia havia sido um sucesso e explicando como haviam parafusado a placa no pedaço de osso etc., lembrei de um personagem da TV, Ciborg, fiz um comentário sobre eu agora ser como ele e ter superpoderes e todos riram, o que me fez muito bem.
Tive alta alguns dias depois e tinha consulta nos outros médicos, percebi que a minha cabeça careca e os pontos visíveis causavam uma certa aflição nas pessoas e concluí que estava mais para Frankenstein? Do que Ciborg? …