Quando a Neném levantava a cabeça, eles batiam em seu rosto e gritavam para ela não me olhar.
Perguntavam sobre pessoas cujos nomes eu nunca ouvira falar, e como eu respondia que não sabia, me jogavam contra a parede.
O tempo que durou e tudo o que aconteceu naquela casa, deixo por conta do passado (até hoje tenho desconforto e preocupação ao escrever sobre o fato).
Depois que eles foram embora, eu e a Neném combinamos de não contar a ninguém. Tínhamos medo de que eles voltassem, medo que alguém comentasse, enfim, medo de tudo.
Estávamos machucadas, mas nada que precisasse de socorro e isso era um alívio, até que umas duas horas depois, ainda muito assustadas pela violência vivida, a Neném começou a ter hemorragia muito forte.
Sai para procurar um táxi, o motorista me ajudou a acomodá-la no banco de trás e coloquei uma toalha de banho entre suas pernas cheias de sangue.
Pedi a ele que nos levasse até o hospital Beneficência, era o único que eu lembrava que atendia ao convenio dela.
Ao chegarmos ainda com a ajuda do motorista, levei-a até a recepção.
Os atendentes não me perguntaram nada, graças a Deus, a levaram em uma maca, pediram para que eu fizesse sua ficha e explicasse o ocorrido depois.
Respirei para me acalmar e não dizer alguma bobagem que viesse a complicar as coisas.
Como eu estava mancando devido as agressões, perguntaram se havíamos sofrido algum acidente, entre outras coisas que já não me lembro.
Não me lembro também o que eu disse, sei que algum tempo depois me deixaram entrar no lugar onde ela estava. E foi ali fiquei sabendo que ela estava mesmo grávida e que acabara de perder a criança.
Mesmo depois de tudo ela estava bem e teria alta hospitalar em breve, apenas com algumas recomendações médicas.
Na manhã seguinte voltamos para casa, e conforme havíamos combinado, silenciamos sobre o caso.
Não fui mais a escola, pouco tempo depois a escola fechou…