Eu e a Neném estudávamos a noite e como morávamos longe da escola, o Nino vinha nos buscar de bicicleta, levando uma na garupa e a outra no cano da frente.
Ele nos orientou que para ficar mais fácil equilibrar, deveríamos sentar as duas com as pernas do mesmo lado.
Nunca soube porque, mas naquela época, mulheres e meninas só podiam andar sentadas de lado na garupa de bicicleta ou cavalo.
Por isto eu deixava as pessoas chocadas no período que vivi na fazenda, já que eu não seguia essa regra.
Mas agora era diferente, eu era mocinha e respeitava os códigos. Sentia-me agradecida ao Nino e orgulhosa de ter um irmão que já era um homem. A presença dele preenchia o vazio que ficara pela falta do papai.
Certa noite, a aula terminou mais cedo e fomos esperar o Nino na casa de uma colega que morava perto do colégio. Ficamos conversando e nos esquecemos da hora e do Nino.
Quando percebemos já era tarde demais e corremos ao ponto de encontro, mas ele não estava lá.
Não havia o que pensar e começamos a caminhar pelo mesmo trajeto de sempre. Quando já havíamos andado dois quarteirões vimos o Nino vindo de bicicleta em nossa direção.
Ele estava muito bravo. Tinha vindo nos buscar e como não nos encontrou foi embora, a mamãe pediu que ele voltasse para nos procurar porque alguma coisa poderia ter acontecido. Quando nos viu bem e ainda rindo a raiva aumentou.
Como castigo nos fez andar e ele com a bicicleta foi nos acompanhando até bem próximo de casa, quando então deixou que montássemos da maneira de sempre.
Quando chegamos a casa, ele de propósito, parou a bicicleta ao contrário fazendo com que nós duas caíssemos com as costas no chão. Sentindo-se vingado dava gargalhadas enquanto eu e a Neném nos limpávamos da terra…