Como a Florisa era muito ocupada com as costuras, a Dona Alzira fazia as refeições para todos nós, quando ficava pronta ela nos chamava, então íamos a casa dela passando pelo quintal.
Naquela manhã acordei cedo demais, quando ela nos chamou parecia que havia esperado uma eternidade.
Olhei mais uma vez no espelho, me certificando que o cabelo estava arrumado e fui para o quintal em direção a casa da Dona Alzira tomar o café da manhã.
No quintal, virei o olhar para a oficina procurando pelo menino, ele não apareceu, e uma nuvem de decepção caiu sobre meu rosto, a ponto da Floriza perceber e perguntar o que estava havendo.
Disse alguma coisa que não me lembro e ela se tranqüilizou, afinal ela já estava acostumada com minhas esquisitices.
Ajudei a Dona Alzira com as louças do café da manhã, estas eram lavadas em uma bacia, já que nesta época ainda não tinhamos água encanada em casa.
A Florisa já estava ocupada com as costuras, quando voltei para casa passando novamente pelo quintal.
Ao olhar na direção da oficina, vi alguma coisa escura se mexendo em baixo de um carro. Era ele, que ao perceber minha presença com dificuldade se desvencilhou de algumas ferramentas e levantou-se. Desta vez me olhou até que eu entrasse em casa, parecendo não mais se encabular.
A Florisa perguntou o que estava acontecendo, e como eu nada disse, concluiu pelo vermelho do meu rosto e o coração disparado que precisava ter uma conversa comigo sobre ficar moça ( menstruação) e que encontraria o melhor momento. Eu nunca ouvira falar a respeito, portanto não entendia a preocupação dela, além do que minha cabeça não tinha espaço para entender nada. Estava preenchida pelo olhar daquele menino…
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