Eu já estava com dezoito anos e meu corpo mostrava isto.
Não tinha mais jeito de menina, apesar de ainda ter mentalidade de cidade do interior. Usava salto o tempo todo, mesmo no ambiente de trabalho.
O trabalho de falar pelo telefone com as companhias de transporte durante tanto tempo, ajudaram a me soltar, conseguia manter uma boa conversa quando surgia a oportunidade.
Fui ficando cada vez mais solta e envolvida com a empresa, ao ponto de ser ser ouvida em várias idéias, as quais foram utilizadas contribuindo para a organização e aumento da produtividade.
Idéias simples, como alinhar as máquinas costura por exemplo.
Com este meu jeito de ser, fui observada pelo Sr. Furtado chefe da contabilidade, ele pediu minha transferência para o seu departamento, o que contribuiu para um aumento no meu salário.
Juntamente com as vantagens que a fase adulta me proporcionava, também tinha as desvantagens. A que mais me incomodava naquele momento, era o fato de tomar ônibus lotado e ter que ficar toreando os aproveitadores. Hoje temos leis que protegem as mulheres dos assédios, mas na época era como briga de galo, apesar de errado era diversão para os malandros e raramente alguém vinha em nosso socorro, e quando isto acontecia era briga feia e os socos sobravam até para quem não tinha nada com isso.
Foi depois de um fato assim que tive uma idéia; me vestir com roupas de homem para ir e voltar do trabalho, levaria a roupa para o dia e trocaria na empresa.
Naquela época mulher não usava calça comprida, esta era uma peça de vestuário exclusivamente masculino, só as mulheres mais atrevidas usavam para um picnic ou algum evento no campo, mas com certo olhar de censura pela maioria das pessoas.
Eu trabalhava numa fábrica de calças jeans, que influenciada pelos americanos estava fabricando também modelo feminino. Como para funcionário havia desconto e também parcelamento, eu poderia comprar a calça sem ter que pedir a Florisa, explicar o que estava acontecendo, esperar minha carta chegar até ela e ainda não saberia quando ela poderia costurar uma calça para mim, enfim ultrapassaria algumas dificuldades simplesmente comprando a calça ali na empresa.
Na hora do almoço fui até a expedição achar um jeito de experimentar a calça, não tinha idéia do tamanho nem do modelo.
Conversei com o chefe e ele me orientou a experimentar no banheiro, visto que não havia provador. A firma só vendia no atacado e o provador não era necessário.
Experimentei várias de vários modelos, descobrindo que na modelagem da empresa eu vestia muito bem as calças masculinas no 36, feminina no 40 e juvenil no 16. Optei pela juvenil e assinei o vale que me dava o direito de retira-la na sexta feira.
Fiquei ansiosa seria uma experiência e uma aventura.
Eu tinha vários chapéus e boinas, os quais eu conseguira ao longo da minha vida. Alguns eu ganhara, outros a Florisa fizera, separei uma boina que me pareceu adequada para esconder o cabelo, uma camisa que herdara do Nino e na sexta feira levei a calça para casa.
Quando me vesti e olhei no espelho, gostei muito muito do que vi.
Achei-me parecida com meus irmãos, o que significava, parecer com meu pai. Fui tomada por uma grande alegria…