Quando voltei do trabalho no meio do dia daquele sábado, estava feliz, iria encontrar o Amauri.
Tenho certeza que ele não sabia o quanto estava mexendo com a minha via.
Desci do ônibus no ponto e comecei a caminhar em direção de casa, quando virei a primeira esquina avistei a Neném, que também estava voltando do trabalho, corri chamando por ela até que me ouviu e parou para esperar-me.
Caminhamos de braços dados como era nosso costume (ainda hoje quando lembro, fecho os olhos e sinto o toque do braço dela encostado ao meu).
Conversamos sobre o meu novo amigo “Amauri” durante a caminhada, até terminar a ladeira e chegarmos em casa.
Combinamos que uma não precisaria dar sermão na outra, visto que não tínhamos segredos e que pensávamos da mesma maneira sobre muitas coisas, e sobre meninos, também.
Ela me ajudou a escolher a roupa que usaria, uma saia plissê soleil xadrez, sapato de salto que usara na noite anterior, uma blusa com babadinhos discretos e minha boina, que também havia usado na noite anterior.
No horário combinado ele chegou. A Neném foi até o portão cumprimentou-o, despedi-me dela e entrei segura no fusca verde metálico.
Ele seguiu por ruas desconhecidas para mim e em determinado momento, em meio a tantas conversas e brincadeiras ele disse que estávamos no bairro da Mooca, perto de sua casa. Disse ainda que se eu não me incomodasse, gostaria de dar uma passada rápida por lá.
Ele havia acabado de dar uma freada brusca dizendo que quase atropelara uma formiga e eu ainda ria da brincadeira.
Ele parou o fusca na Rua dos Donatários em frente ao n. 213.
A casa tinha um portão grande, através do qual dava para ver um quintal com uma grande parte de terra.
Naquele tempo, não se ouvia falar em assaltos, e não havia o perigo que se tem hoje de ficar no carro sozinho, e assim fiquei esperando por ele.
Quando retornou, veio acompanhado de uma senhora ainda jovem e muito bonita, ele me apresentou a ela da seguinte maneira:
– Mãe, esta e a futura mãe dos seus netos.
Fiquei sem saber o que dizer, e sem me dar muito tempo ela disse:
– Não foi isto que combinamos que você diria, tenha coragem e diga o que você veio fazer aqui.
Ele, em meio a uma gargalhada disse:
– Ganhei a aposta porque vou dizer.
E voltando-se para mim:
– Vim ao banheiro porque estava com dor de barriga.
Virou-se novamente para a mãe e repetiu:
– Esta é a futura mãe dos seus netos.
Disse isso e acelerou o carro rindo muito, enquanto eu não sabia o que pensar, ou como agir…..