Para facilitar a vida, contratei uma senhora para fazer o trabalho da casa.
Além dela, tinha faxineira duas vezes por semana e a babá, assim entendi que poderia aos poucos voltar a trabalhar.
A senhora que eu contratara, Dona Lurdes, fora muito bem recomendada e me parecia uma pessoa responsável, haveria de dar certo.
Pensei em trabalhar dia sim dia não, tentando assim encontrar alguma forma da vida parecer normal.
Primeiro passo, falar com o Filemar.
Precisava saber se procurava escola para os meninos, ou se deixava um pouco mais a frente. Enfim, a minha cabeça ainda tinha dificuldade para encaixar pensamentos e sentimentos.
Eram mais ou menos dez horas da noite, as crianças estavam dormindo, e a mamãe também se recolhera.
O Amauri ainda não havia chegado, e enquanto esperava por ele, deitei na cama com apenas a luz do criado mudo acesa.
Ali, na meia luz do quarto, a lembrança do riso da Nenem dentro daquela casa me invadiu, e mais uma vez o choro não pode ser contido.
Estava mergulhada nas lembranças, com pena de mim mesma, quando uma sombra se movimentou entrando pela porta.
Era a Nenem, por um momento pensei estar sonhando e me sentei na cama.
Ela caminhou até onde eu estava e se posicionou a minha frente, vestia o mesmo vestido com o qual havia sido sepultada e disse ter um pedido.
Fiz um gesto com a cabeça indicando que estava pronta para saber o que ela queria.
Ela pediu que eu parasse de chorar, que isso não era bom nem para mim nem para ela, que meu choro era pesado também para a mamãe e os meninos, que eu tinha que parar de sofrer, que tinha a minha vida, a dos meus filhos e a dos dela para cuidar.
Disse também que o Filemar estava transtornado, que ela contava comigo e que estaria sempre ao meu lado e ao lado dos meninos, porque não conseguiria seguir em frente sem que eles se tornassem adultos,.
Perguntei o que ela estava sentindo naquele momento, pois me parecia endurecida.
E ela respondeu, culpa.
Conversamos por um tempo que não consigo saber se foi muito ou pouco, mas que foi fundamental para mim.
Voltei daquele estado de torpor enquanto ela desaparecia da minha visão.
Levantei, fui até os quartos das crianças e da mamãe, todos dormiam tranquilamente.
Parei de ter pena de mim mesma e resolvi de fato deixar de ser peso e seguir a vida.
Até hoje sinto saudade e muitas vezes choro mansinho por cinco minutos, no máximo…….