As pernas e os pés estavam muito inchados e avermelhados, a dor era insuportável.
A Dolis trouxe uma bacia com água e panos, ela os molhava e enrolava em minhas pernas trocando de tempos em tempos.
Deu-me um comprimido para dor, que tomei sem nem perguntar o que era, estava aceitando os cuidados com muita gratidão e faria o que indicassem sem questionar.
Não sei se foi o cansaço ou o medicamento que tomara, adormeci.
Quando acordei a Dolis estava muito preocupada e tentando explicar a dona Maria que eu estava com febre, que possivelmente era gangrena e questionando se não seria melhor chamar minha família ou seja, meus tios.
A cena que se seguiu jamais esquecerei.
A dona Maria sem conseguir ser compreendida pela Dolis tomou a frente e pegando os panos apertou-os nas mão, os levou a sua testa e em seguida ao coração.
Enquanto realizava isto, fazia uma espécie de oração, um mantra em grego e ia repetindo, repetindo, repetindo…
Enrolava os panos nos pés e pernas, deixava um tempo e depois desenrolava iniciando tudo de novo, isso se repetiu a noite toda.
Quando o dia amanheceu, minhas pernas e pés estavam normais e nós três, exaustas…
A dona Maria pegou em minhas mãos, e com dificuldade para se expressar disse que eu seria a herdeira de alguns de seus dons, que esses dons iriam se somar aos meus porque ela me escolhera.
Naquele momento eu não compreendi o que ela estava querendo dizer, mas tive a oportunidade graças a Deus, de viver ao lado dela tempo suficiente para entender o que ocorrera, e o que ela dissera.
Meus tios e primos nada perguntaram, mas a Neném não teve sossego até que lhe contasse com detalhes o que acontecera. Quando falei das pernas, não havia nem um sinal que pudesse comprovar o que dizia, ela teria apenas que confiar em mim.