O dia já estava terminando, o céu colorido de púrpura, estávamos em um período em que as tardes eram lindas.
Naquele momento todos já haviam ido embora e sozinha caminhei pelo acampamento colorido e vazio, olhei os pequenos jardins e me emocionei com o cuidado que havia em cada canteiro.
A sensação que me invadiu era de uma grandeza que só se encontra na natureza, o cheiro da terra estava por toda a parte.
Num impulso me ajoelhei, e curvando a cabeça agradeci a Deus pelo momento, pela minha família, pela missão e pela vida.
Com tranquilidade e alegria preparei meu banho em seguida o jantar.
Quando terminei de lavar a louça já havia escurecido e só ouvia o som de alguns bichos na pequena floresta próxima dali.
Iluminando com a lanterna, caminhei mais uma vez pelo acampamento me certificando de que tudo estava em ordem.
Pouco tempo depois já havia me recolhido quando lembrei que havia deixado uma panela com um pouco de arroz no chão da cozinha da barraca, estava pensando em ir pegar quando ouvi o barulho da chuva na lona da barraca.
Me encolhi sentindo o prazer daquele momento, afinal não havia pressa, poderia recolher a panela alguns minutos depois.
Estava ainda envolvida naquele energia quando ouvi o barulho de alguém comendo na panela, imediatamente pensei no lobo guará, sentei devagarinho no colchão e olhei através do plástico que cobria a janela da barraca onde era o quarto de dormir. E lá estava ele, sentado nas patas traseiras e olhando firmemente em minha direção.
De onde eu estava ele não conseguia me ver, já eu, queria sair do quarto e tentar uma aproximação.
Puxei o zíper com muito cuidado e coloquei a cabeça fora da porta, ele não estava mais lá, voltei em silêncio para dentro do quarto na esperança que ele voltasse.
Em alguns minutos ouvi ele comendo novamente. Olhei através do plástico da janela e ali estava ele, na mesma posição.
Mais uma vez tentei sair para me aproximar, mas ao colocar a cabeça com cuidado fora da porta ele não estava mais.
Isso se repetiu umas quatro vezes, até que fiz o movimento com a cabeça de um lado e do outro e descobri o que estava acontecendo.
O lobo não estava verdadeiramente na minha barraca, era uma pequena árvore que com a sombra parecia o lobo sentado nas patas traseiras, e quando eu olhava de um outro ângulo a imagem se desfazia parecendo que ele fora embora.
O barulho dele comendo na panela era a chuva que descia pelo cordão da barraca e caia em gotas centro de um pequeno buraco.
Tudo isso unido ao desejo de me aproximar do lobo guará criou aquela situação insólita, que me deixou envolvida e emocionada durante um longo tempo…