Não recebia visitas, não saia de casa, não confiava em ninguém para cuidar da minha filhinha.
O Amauri ia trabalhar e sempre que podia passava para ver como estávamos, no final do dia procurava vir logo para casa.
Naquela época, homem não ajudava a trocar fraldas, dar mamadeira ou qualquer outra coisa relacionada aos cuidados com bebês, mas o Amauri me ajudava durante a noite quando ela acordava chorando.
Ele a pegava no colo e a balançava, enquanto cantarolava alguma música que não combinava em nada, com uma canção de ninar.
Não sei qual era a mágica, mas ela acabava dormindo novamente por algum tempo.
Digo isso porque ela a medida que ela crescia, dormia menos, chorava muito (quase o tempo todo) e a noite era ainda mais difícil.
Como ela já havia ganho peso suficiente, o pediatra liberou as visitas e até algum passeio, já que ela até então só tinha permissão de sair para as consultas médicas.
Eu tinha uma moça trabalhando na minha casa, era muito esperta e me ajudava bastante.
Certo dia, o Sr. Angelo veio ver a Juliana e não sei porque iniciou uma briga com minha ajudante enquanto eu estava trocando as fraldas.
Como eu estava no quarto, só percebi quando ouvi as vozes exaltadas dos dois.
Terminei no meu tempo o que estava fazendo, já que nada me tirava o foco, minha filha estava sempre em primeiro lugar.
Quando desci a moça tinha ido embora e não voltou mais.
Passei a cuidar de tudo sozinha e não estava fácil.
Lavar fraldas, limpar a casa, cuidar da Juliana de maneira obsessiva. Ela já estava com três meses, fortinha, linda, e mesmo assim eu continuava com medo de perde-la.
Eu a vestia como uma boneca, seus vestidinhos, sempre muito bem lavados e passados. No final do dia eu estava sem força para nada, o cansaço era visível nas minhas olheiras.
Uma noite, o Amauri estava sentado vendo televisão, enquanto eu dava mamadeira para a Juliana e ele pediu que eu fosse buscar um copo de água para ele na cozinha, que ficava no andar de baixo. Respondi que estava dando a mamadeira e que estava muito cansada, que ele mesmo buscasse.
Ele perguntou porque eu estava cansada.
Sem entender direito, comecei a explicar sobre cuidar da casa, lavar roupa, fazer comida e fui interrompida por ele, que rindo me disse: - você fica o dia inteiro em casa cuidando dessa menina tão pequena, como pode estar cansada?
Silenciei, mas minha cabeça não parou. Fiquei tentando entender o que estava acontecendo com meus sentimentos.
Me considerava uma pessoa inteligente e agora estava confusa, não sabia o que pensar. Coloquei a Juliana no berço e meio sonâmbula fui buscar a água que o Amauri pedira.
Quando fechei os olhos para dormir, lembrei que a tempos não rezava. Não encontrava tempo.
Quando acordei, olhei para a Juliana que também acabara de acordar. Ela sorriu e estendeu os braços pedindo colo, percebi o quanto eu a estava tornando dependente da minha pessoa, e em meio aquela vida tão cheia de cansaço, reconheci meu egoísmo.
Fiz tudo que precisava ser feito na casa, arrumei a sacola com as coisas da Juliana, tomei banho enquanto ela dormia o soninho da manhã, me vesti, e quando ela acordou peguei-a no colo e fui pela primeira vez em meses até a loja.
Quando cneguei foi uma surpresa e alegria geral. As meninas que trabalhavam na loja queriam pegar a Juliana, cuidar dela, dar mamadeira. A Dona Angela fez almoço especial para me agradar e a Dona Odila colocou a Juliana para dormir.
Tive um dia como a muito tempo não tinha. Nem lembrava mais como era viver desperta, estava a muito tempo sonâmbula.
Depois disso, voltei a trabalhar na loja. Arrumei outra moça para cuidar da casa, e vi o Amauri me ajudando, afinal, agora eu estava trabalhando.
Todo dia eu e a Juliana íamos trabalhar e todos nos ajudavam.
A partir dali, passei a aconselhar sempre que via alguma mulher naquela situação, que procurasse trabalhar em qualquer coisa, nem que o retorno financeiro desse apenas para pagar alguém que cuidasse da casa.....